Faz
hoje seis anos que Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos da América.
Naquele frio dia de outono, a América de George Washington, Luther King, Roosevelt e Lincoln elegia o
primeiro presidente negro da sua História e terminava com mais um tabu que a fazia
corar de vergonha perante o mundo de quem quer ser exemplo moral.
Eleito
sob o lema “Yes, We Can”, Obama representava o orgulho da população negra americana,
e também da branca, que queria eleger um presidente negro para matar definitivamente
a acusação de preconceito racional de que subliminarmente era acusada.
Obama
era o ideal. Liberal q.b., como qualquer Democrata, ele era o sedutor das
massas, o mago da oratória, que trazia a confiança no discurso e prometia fazer
regressar os soldados americanos do Iraque e do Afeganistão e fechar Guantánamo.
Prometia recuperar a economia, criando emprego, travando a recessão ao mesmo
tempo que garantia aos pobres o regresso do sistema nacional de saúde e
educação.
Qualquer
analista mediano diria que Obama era um lírico, mas a América é a terra dos
sonhos e o ser humano adora histórias, onde os heróis fazem as coisas mais
improváveis. Por isso, em todo o mundo se acreditou que “they can”, embora
todos soubéssemos que não havia garantia nenhuma que isso acontecesse.
Um dos
fatores que ajudou a eleger Obama foi a crença, justa, que ele não era um
radical. Obama tinha e tem bom senso e por isso decidiria racionalmente o que
era melhor para a América.
Em
poucos meses, o Presidente despertou brutalmente para a realidade. Havia que
tirar os EUA da recessão que a bebedeira bolsista em que a Era Bush tinha
afundado o país. Obama foi ao Bank of China pedir um empréstimo a longo prazo, a
juros de amigo, que salvassem o velho oeste. Como garantia ofereceu a
credibilidade americana e uma governação que não afrontaria o capital. Não tinha
outra solução.
Entretanto,
os americanos descobriam que o seu presidente falava bem, mas isso não lhes enchia
os bolsos nem lhes permitia passar férias fora de casa. Não haveria truque
mágico, mas todas as promessas seriam para cumprir… se possível! Ora como
acontece com qualquer homem normal (e Obama é um homem normal) cumpriu-se o que
se pôde!
Talvez
por isso, seis anos depois da primeira eleição, haja uma indisfarçável sensação
de desilusão e desencanto, não só na América como no mundo. Obama é um
presidente bem-intencionado, determinado, convincente, mas não é um homem
extraordinário como as circunstâncias da América o exigiam. E mesmo que fosse,
não era certo que conseguisse vencer a maioria dos trabalhos de Hércules com
que se deparava.
Curiosamente,
acho que Obama teve pior na política externa do que na política interna, ainda
que os americanos lhe cobrem mais por aquilo que não fez no país do que aquilo
que fez mal internacionalmente.
Nas
relações internacionais, Obama esteve péssimo! Pôs os serviços secretos a
espiar os velhos aliados europeus, minando a relação de confiança existente, e
deixou que o Estado Islâmico crescesse e aparecesse a degolar americanos como
sobremesa dos telejornais. Saiu do Iraque como prometera, mas teve de
continuar no Afeganistão, porque não se acaba uma intervenção militar naquela
zona do globo como se apaga a luz do escritório no final de mais uma jornada de
trabalho. Obama permitiu que os militares egípcios colocassem no poder a
Irmandade Muçulmana, o que ainda vai causar muitas aflições aos ocidentais, no
futuro. Barack Obama ordenou uma intervenção militar na Líbia, mas isso em nada
resolveu o problema da região e apenas contribuiu para aumentar a ideia de
impotência da política externa da administração Obama, até porque a Rússia e o
Irão continuam a rir-se das ineficazes sanções económicas dos EUA.
Em resumo,
e para ser simpático, na política externa, Obama foi naif e inábil.
Dentro
de portas, Barack Obama foi apenas razoável, quando a expectativa era enorme.
Conseguiu devolver dignidade a muitos compatriotas, levando em frente o seu
projeto de saúde pública para todos, conhecido como “Obamacare”. Foi corajoso
quando se mostrou favorável à legalização do casamento entre pessoas do mesmo
sexo. Foi coerente, na tentativa, ainda não conseguida, de legalizar onze
milhões de clandestinos através duma nova lei da imigração.
O
problema de Obama foi que a classe média não recuperou qualidade de vida e hoje
não sai do patamar de “remediada”. Todos esperavam que Obama fosse o novo herói
americano, que o presidente não foi, não é nem nunca será. Obama fez dois
mandatos esforçados, honestos e razoáveis.
Talvez
seja tempo da América e do mundo perceberem que o século XXI será daqueles que
enfrentarem os desafios e as dificuldades coletivamente, pensando resolver os
seus problemas com união, trabalho e paciência.
Obama
tinha dito “we can”, mas os americanos acharam que ele ia fazer o trabalho
sozinho, but he can’t.
Gabriel
Vilas Boas
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