Há vinte e cinco anos caía o muro de Berlim. O ícone mais visível da Guerra
Fria desaparecia para sempre.
Durante vinte
e oito anos o povo alemão viveu separado por um muro de betão que circundava
Berlim em 66,5 quilómetros e tinha quase quatro metros de altura. Um dos seus
arquitetos, Erick Honecker, chegaria a presidente da RDA, país que resolveu
implementar este autêntico muro da vergonha.
O muro de
Berlim não dividia apenas a Alemanha, mas também a Europa e, sob o ponto de
vista ideológico, o mundo. Dum lado, o mundo capitalista, doutro crescia o
democrático. Esta era a visão vendida a leste. A ocidente, crescíamos com a
ideia que o muro dividia o mundo democrático da ditadura socialista.
O certo é que
o muro de Berlim simbolizou a ditadura do medo que dominou a Europa mais de três
décadas. Cresci com isso e com a corrida ao armamento nuclear. Aprendi que o
mundo era a preto e branco, apesar de ser um lindo arco-íris. Por isso, foi com
enorme alegria que vivi aqueles dias de novembro de 1989. Duzentos anos após a
revolução francesa, a Europa reconquistava novamente o sentido de liberdade e
democracia.
Vinte e oito
anos foi um tempo demasiado longo para muitas famílias alemãs que viveram
separadas por um muro incompreensível. É fácil perceber toda a amargura sentida numa Alemanha que expiava longamente os pecados cometidos durante a segunda
guerra mundial. Talvez alguns tenham percebido um bocadinho da dor judaica na
segunda Grande Guerra.Esta provação
nem sempre foi suportável para muitos berlinenses de leste e alguns tentaram
cruzar terra proibida. A ordem era para atirar a matar e por isso calcula-se
que cerca de oitenta pessoas tenham perdido a vida, embora o governo de Honecker nunca tenha fornecido dados oficiais.
À queda do
muro de Berlim seguiu-se o processo de reunificação que Helmut Kohl fez questão
de concretizar o mais rapidamente possível. Fê-lo com grande humanidade e
tentando que a desenvolvida Alemanha Ocidental engolisse o atraso económico da
RDA, como se um irmão rico usasse a fortuna acumulada em vida para colocar o
irmão pobre a viver quase como ele. Foi uma Alemanha unida que construiu o euro
que hoje lhe garante a supremacia económica na Europa. Também é porque o muro
caiu que hoje Merkel governa a Alemanha.
Além de Khol,
os alemães devem agradecer a queda do Muro que os angustiava a Gorbatchev. Foi
ele que quebrou o decisivo “brick in the wall” e permitiu aquele abraço por que
muitos ansiaram longos anos.
Hoje não há
mais muros físicos que apartem os povos, mas crescem outras espécies de ditaduras
como a do sacrossanto capital que guetiza povos e os submete a condições de
vida muito difíceis. A Europa, onde Merkel manda, é um território onde crescem altos muros que dividem pobres e ricos; é um espaço onde Berlim usa a sua
posição dominante a nível económico para impor um ritmo e um estilo de vida que não
respeitam a especificidade de cada povo. A solidariedade de Khol não faz parte
do léxico de Merkel, que ignora que a História também existe para que
aprendamos com ela. E a lição deste muro vergonhoso não foi totalmente
apreendida por muita gente que o viveu.
A grande lição
que o Muro de Berlim deixou às gerações futuras é que os povos devem concentrar-se em construir pontes de solidariedade, compreensão e respeito, onde qualquer
muro pareça sempre absurdo.
Gabriel Vilas Boas
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