Exposição patente no Museu de Arte Contemporânea de Serralves
MONIR SHAHROUDY FARMANFARMAIAN: POSSIBILIDADE INFINITA. OBRAS EM ESPELHO E DESENHOS 1974-2014
“O
interesse de Monir pela geometria está, porém, firmemente ancorado na cultura
islâmica, em particular no sufismo, para o qual a geometria é a expressão do
fluxo vital, contínuo e dinâmico que perpassa toda a existência. Ela une a
dimensão mais íntima do ser humano com a mais ampla dimensão do espaço
cosmológico e físico, dando estrutura às infinitas possibilidades da
existência, ou, por outras palavras, à liberdade.”
Texto do
roteiro baseado em excertos do ensaio de Suzanne Cotter
Serralves, Janela com vista para o Outono |
Visitar
Serralves é uma das minhas distrações preferidas. Mesmo que num sábado cinzento
e chuvoso, pleno de outras possibilidades infinitas. De preferência sozinha,
para um diálogo mais fácil com os meus pensamentos, num passeio pelo parque
coroado por um chá bem quentinho na cafetaria e uma visita à loja, logo
seguido de uma incursão pelas exposições que são sempre sinónimo de grande
qualidade, apreciemo-las ou não.
Desta
vez, o encontro surpresa foi com a obra de Monir Shahroudy Farmanfarmaian.
Monir Shahroudy Farmanfarmaian no seu estúdio a trabalhar em Heptagon Star, Teerão,1975 |
Nascida
em 1924 na antiga cidade persa de Qazvin, no Irão, muda-se para Teerão em
1932, onde frequenta a Faculdade de Belas-Artes. Impedida de estudar em Paris,
como era seu propósito, devido à Segunda Guerra Mundial, fixa-se em Nova Iorque,
onde trava amizade com um círculo de artistas como Willem de Kooning, Robert
Rauschenberg e Andy Warhol, para citar apenas os mais sonantes.
Em
1957, regressa ao Irão, onde contacta com obras de artesanato e arquitetura
decorativa, no âmbito dos têxteis e dos metais. É nesta altura que visita o Santuário
Shah Cheragh, em Shiraz, que a influencia profundamente no seu trabalho futuro
com espelhos, recorrentes na sua obra.
Santuário Shah
Cheragh, Shiraz
Interior do
Santuário Shah Cheragh, Shiraz
“Possibilidade Infinita” é a primeira
exposição de Monir em Portugal, onde, num processo engraçado de quase assemblage, reúne desenhos e obras em
espelho. O seu gosto pela abstração geométrica é central em toda a sua obra,
onde combina em fórmulas arrojadas de repetição e progressão conceitos e
“…tradições visuais, espaciais e simbólicas da arquitetura e da decoração
islâmicas.”
Achei
interessantíssimo o trabalho escultórico dos espelhos proposto pela artista,
onde a pintura, o aço, o vidro, o gesso e o espelho são moldados em padrões de
geometria pura, tão ao gosto islâmico.
Os desenhos
ali expostos, realizados no seu exílio em Nova Iorque, prefiguram composições
abstratas onde o espelho também é parte integrante, como se vê nos trabalhos
abaixo representados.
Geometric, espelho, vidro pintado a óleo
no verso e caneta de feltro sobre cartolina
Hexagon, caneta de feltro sobre papel
Hoje, com 90 anos de idade, Monir surpreende pela vitalidade e poder de criação da sua obra invulgar e exuberante. Vidro, desenho, espelhos, geometria. Por tudo isto, penso que vale a pena uma visita a esta exposição; ela é, em si mesma, uma infinita possibilidade.
E faça-o já, antes que ela viaje até Nova Iorque, onde estará patente no Solomon R. Guggenheim Museum.
Rosa Maria Alves da Fonseca
Sem comentários:
Enviar um comentário