A 26 de novembro de 1764, o rei
Luís XV expulsava a Companhia de Jesus de França. Após 230 anos de existência,
a congregação que Inácio de Loyola criara a partir da universidade de Paris, deixava
de poder operar em França.
Durante dois séculos, ganhou um
poder enorme quer na Igreja Católica quer na sociedade civil europeia.
Pessoalmente, sempre liguei a Companhia de Jesus à Inquisição e, por isso, não
tinha uma opinião muito positiva sobre os jesuítas. No entanto, ao olhar com
mais atenção à sua intervenção, percebi que os jesuítas tiveram um papel fundamental
no ensino e na atividade missionária. Em qualquer situação, a polémica sempre
os acompanhou! Fizeram votos de castidade, obediência e pobreza, mas não de
discrição….
Admiro a força, a determinação e a
coragem que tiveram na América do Sul, ao lutarem, por palavras e por atos,
contra os abusos dos colonos sobre os escravos indígenas. O fim da escravatura,
no Brasil, começou no discurso e na ação de homens valentes e eloquentes como o
“nosso” padre António Vieira.
O criador do celebérrimo “Sermão de
Santo António aos Peixes” simboliza perfeitamente outra imagem de marca dos
jesuítas: a umbilical ligação ao ensino e à cultura.
Os jesuítas eram uma espécie de
ministério da educação de muitos países europeus. Várias gerações de homens
ilustres foram formadas em colégios jesuítas, onde a exigência científica e
cultura sempre foi elevada.
Só que os jesuítas nunca foram
homens de “compromissos” e ao lado da excelência cultura tinha de crescer uma
fé inquestionável e afirmativa, ou seja, os jesuítas dominavam o ensino nas
melhores universidades da Europa e com isso “tinham na mão” as pessoas mais
relevantes de cada Estado. Isso dava-lhes um poder enorme no governo dos povos
que não era bem visto pelos iluministas do século XVIII.
Penso que os jesuítas, orgulhosos
do seu saber, nunca quiseram incorporar um valor fundamental do cristianismo: a
humildade, o que na prática traduzir-se-ia na abdicação dum poder fáctico que
realmente detinham. Eles sempre quiseram ser os senhores do Templo e do Tempo e
acho que essa “gula” determinou os ódios que congregavam. Jesus dizia que o Seu
Reino não era deste mundo nem deste Tempo, mas a Companhia de Jesus nunca quis
abdicar duma intervenção decisiva nos destinos das sociedades onde se inseria.
E esse foi, para mim, um aspeto negativo da congregação, embora não o seu lado
mais negro.
A face mais obscura mostrou-a
especialmente no século XVI, quando, ao lado do Tribunal do Santo Ofício,
patrocinou julgamentos arbitrários, autos de fé e a imposição dum pensamento
religioso e único. Esses foram pecados graves, que mancharam historicamente a
reputação da Companhia de Jesus.
Tal como aconteceu com outros
importantes grupos (religiosos ou não), a História encarregou-se de fazer
sentir, aos jesuítas, na própria pele, as injustiças que cometeram sobre
outros. Talvez por isso, nomes como o Marquês do Pombal ou o rei francês Luís
XV sejam referências não gratas à Companhia.
Justamente reabilitados, voltaram
a marcar presença em Portugal e noutras latitudes. Hoje são mais de dezoito mil e é um jesuíta que ocupa a cadeira de S. Pedro. Paradoxalmente ou talvez não, deixaram a polémica e ganharam discrição. Afinal, há um de jesuíta de que todos gostam!
Para já! Como será dentro de alguns anos, quando virmos que o Papa Francisco foi apenas uma oportunidade perdida ?
ResponderEliminarPorque oportunidade perdida ?
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