O Banco Alimentar contra a Fome é
das projetos mais luminosos, úteis e humanitários que existem em Portugal.
Trata-se duma ideia que procura e consegue dar forma aos valores mais básicos
do ser humano: solidariedade, partilha e dádiva.
E são poucos os projetos com esta
dimensão e utilidade, onde podemos expressar, dum modo simples e eficaz, a
nossa cidadania, humanidade e dignidade.
Interessam-me poucas polémicas
acerca das infelizes palavras que Isabel Jonet proferiu no passado, porque isso
não é o essencial. Relevante é pôr em prática uma ideia de ajuda ao próximo que
nos enobrece e nos faz melhores pessoas.
Devemos contribuir na medida das
nossas possibilidades, sem pensar em quem ajudamos nem fazer juízos de valor
sobre as circunstâncias que ditaram estas condições de extrema necessidade em
que vivem mais de quatrocentos mil portugueses.
Fico muito satisfeito ao ver que a
dimensão da solidariedade do povo português acompanha as necessidades. Mais de
quarenta mil voluntários estiveram envolvidos, neste fim-de-semana, numa ação
de recolha de alimentos em cerca de duas mil lojas espalhadas pelo país. Estes
números impressionantes dão-nos a real dimensão da carência económica em que
vivem os nossos compatriotas.
É de fome que falamos! Pessoas que
não têm qualquer rendimento para fazer uma/duas refeições diárias. Muitas delas
juntam a isto outras necessidades: alojamento, vestuário, cuidados básicos de
higiene…
O Banco Alimentar Contra a Fome
faz coisas simples mas muito importantes. Recolhe as dádivas e distribui-as. Os
voluntários fornecem o seu tempo e o seu sorriso, cada um dá o que entende,
muitos milhares agradecem.
Nesta altura do ano é mais fácil
contribuir, pois a aproximação do Natal enobrece os nossos sentimentos como se
houvesse um calendário solidário. É um conceito que temos que contrariar. A
solidariedade deve estender-se por todo o ano, pois ela está sempre a ser
precisa. Não precisamos de nos preocupar com o putativo merecimento das pessoas
que beneficiam desta ajuda. As diversas instituições de solidariedade social
estão mais do que habilitadas para avaliar a situação. Haverá todo o ano muita
comida que sobra, muito roupa que deixamos de gostar, muito material encostado
nas arrecadações que preencheria as necessidades de muitos homens e mulheres
que hoje se acolhem num vão de escada e não sabem o que é um banho quente há vários dias.
Sei que chegamos a este estado
social porque o Estado que nos governa perdeu o sentido do essencial. Hoje,
amanhã ou noutro dia qualquer compete-nos alimentar a luz trémula dum futuro
coletivo bem mais risonho.
Gabriel Vilas Boas
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