Na bela paisagem
do Alto Alentejo, no Crato, ergue-se o Mosteiro Fortificado da Ordem do
Hospital da Flor da Rosa. A sua origem remonta ao século XIV. A sua vocação
guerreira e espiritual passou para a expressão arquitectónica de uma forma
particular.
Quando observamos
o mosteiro ao longe, vemos um conjunto austero, composto pela adição de volumes
elementares, que têm como contraponto a delicadeza das colunas do claustro ou a
elegância vertical das ogivas da nave da igreja. O granito transmite a ideia de
dureza defensiva, enquanto o mármore salienta os detalhes e os ornatos. É nestes
contrapontos que reside a maior particularidade e expressividade deste mosteiro
da Ordem do Hospital.
No início da década
de 90 do século passado, o arquiteto João Luís Carrilho da Graça ficou
encarregue de adaptar este conjunto arquitetónico a uma pousada, o que
justificou a construção dum novo volume para acolher novos quartos, marcando
claramente a passagem do final do século XX pelo monumento.
No entanto, o
novo edifício não é imediatamente apreensível ao olhar distante: é necessário
chegar ao mosteiro, atravessar um terreiro, compreender a adição de volumes, no
tempo que nos toma a chegar à dupla porta, com arcos assimétricos e alturas distintas,
que vai humanizando a escala do edifício.
Uma vez no
claustro, somos surpreendidos com outro ambiente delicado e introspectivo. O
carácter defensivo do edifício desvanece-se. Só depois de atravessar o claustro
tomamos contacto com um ponto charneira entre o velho e o novo, onde se volta a
descobrir a bela paisagem alentejana através de uma grane janela.
Esta "invisibilidade" do novo edifício revela-se uma estratégia iniciática, do
arquiteto Carilho da Graça, para descobrir um longo edifício branco, composto
por planos plasticistas, marcando o ritmo dos quartos, celebrado através da
pala que parece abraçar o velho mosteiro sem lhe tocar. O que demorou um longo
caminho a descobrir revela-se agora um gesto corajoso e possante de simbiose
física e conceptual entre o passado e o presente, abruptamente marcado pela
diferença entre o branco e o granito, a que a luz do Alentejo dá variações
inesperadas.
Quando o seu
caminho se cruzar com a bela vila do Crato, talvez valha a pena desfrutar do
requinte desta pousada carregada de história, onde a proposta arquitetótica de
Carrilho da Graça soube incorporar a modernidade num passado secular.
Gabriel Vilas Boas
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