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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DA PAISAGEM EM THEÓDORE ROUSSEAU



Theódore Rousseau, Paisagem de Outono, Coleção Calouste Sarkis Gulbenkian


“Passagem de Outono entre formas
Com o interior dourado. Eu também
Na borda do rio observo o gradeamento
Gasto, o inseto da ferrugem a roê-lo.
Mais do que ausente, o mundo (…)
É oculto, fabuloso, mortal.
Os olhos são feitos de centelhas.
O Outono dá-me pateticamente um tom de cobre!”
Fiama Hasse Pais Brandão
Obra Breve



                A paisagem teve um papel meramente decorativo na história da pintura ocidental até que finalmente Turner e Constable a legitimaram definitivamente nos inícios do séc. XIX.
Trago-vos hoje Rousseau, o grande mestre da paisagem, seu líder e mentor, que traça a partir de Barbizon um novo caminho na evolução da pintura francesa do género. Rousseau e o seu eterno fascínio pelo mundo natural, pela luminosidade especial de cada uma das estações do ano, das suas atmosferas, das horas únicas de lentidão e preguiça, como tão bem se observa na obra de hoje, “Paisagem de Outono”, presente na Coleção Calouste Sarkis Gulbenkian. A paisagem adquire vida e personalidade, protagonista de um ato absolutamente criador, usando um método claro de pintura de “plein air”.

Nesta “Paisagem de Outono” a paixão pela natureza é notória e evidencia-se na serenidade com que a estação do ano emerge em pinceladas poéticas aplicadas na folhagem das árvores, na coloração da terra, no azul místico de um céu polvilhado de nuvens.



Theódore Rousseau, Paisagem de Outono, (pormenor)
Coleção Calouste Sarkis Gulbenkian

Em êxtase indomável, afugentado pela incompreensão da crítica de arte, Rousseau vai ao encontro de uma experiência artística que demanda, de forma realista e naturalista, um diálogo romântico com o riacho, as árvores, as folhas incandescentes, num louvor emotivo à vida no campo.
A obra de hoje faz parte integrante do acervo do grande colecionador Calouste Gulbenkian, dono de uma sensibilidade invulgar para a escolha das obras que adquiriu e de um bom gosto único. A paixão pela arte, essa, foi sempre inequívoca.
Com pintores Corot ou Millet, Rousseau abre caminhos para o Impressionismo que se adivinha, a partir da escola de Barbizon.
Deixo-vos com a melancolia do Outono francês. O nosso não lhe fica atrás, pelo que vos aconselho a sorvê-lo nos intervalos de uma chávena de chá, bem perto de lareiras possuídas pelo fogo, mas sempre junto a janelas com vista sobre os tons outonais ;e, por que não, mergulhem, como Rousseau, num passeio pelo campo e deliciem-se com a festa da cor, em tons de cobre, laranja e castanhos ricos e imprevisíveis.
Por agora, enlevem-se com a música que escolhi, enquanto apreciam a delicadeza desta paisagem outonal. Bom fim-de-semana.

Rosa Maria Alves da Fonseca


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