Pensei
muito nisto quando, ontem, tropecei no décimo aniversário da morte de Yasser
Arafat. Não sei se o problema é dos tempos ou se é do Sujeito. No caso de
Arafat, acho que se tratou um pouco das duas coisas.
O
facto é que Arafat passou ao lado da História, ao não conseguir ser o líder
palestiniano que conduziu o seu povo à terra prometida e, desse modo, fechar a
ferida de ódio mais difícil de sarar atualmente no mundo – a guerra
israelo-palestiniana.
Arafat
morreu há dez anos, em Paris, provavelmente assassinado de modo científico, mas
o seu fim político começara em 11 de setembro de 2001, quando os estados Unidos
se afastaram definitivamente da OLP, em particular, e dos países árabes, em
geral.
Antes,
Arafat tivera a oportunidade única de inscrever o seu nome a letras d’oiro no
livro da História do século XX. Em 1993, a administração norte-americana,
liderada pelo democrata Bill Clinton, empurrou o governo israelita de Itzhak
Rabin para a paz com os palestinianos de Arafat. No entanto, nem o destino nem a sabedoria do
líder da OLP permitiram que a paz triunfasse.
Rabin
seria assassinado por alguém que nunca compreendeu que a paz e o perdão são
valores bem superiores ao ódio e ao ressentimento. Clinton ainda forçou Ehud
Barak a aceitar o essencial da paz negociada entre Arafat e Rabin. Barak
ofereceu à Autoridade Palestiniana um Estado, onde cabiam a Cisjordânia e a
Faixa de Gaza, ainda que alguns pontos tidos como essenciais para os
palestinianos não estivessem devidamente caracterizados. Incompreensivelmente,
Arafat recusou a proposta judaica e deu início à segunda Intifada. A História
não lhe deu nova oportunidade e os últimos anos foram penosos.
Preso
no seu “palácio” de Ramallah, jamais Arafat conseguiu convencer os judeus de que
os seus propósitos eram, inequivocamente, pacíficos. O falcão Ariel Sharon tratou
de arranjar as provas que justificaram novos ataques israelitas, para quem
Arafat voltara a ser o terrorista dos tempos da Fatah, que usou a Jordânia e o
Líbano para atacar Israel.
Olhando
friamente a biografia do homem que nasceu no Cairo, em pleno verão de 1929, mas
passou a vida inteira a dizer que nascera em Jerusalém, vemos que Arafat passou demasiado
tempo a patrocinar ataques suicidas, a justificar-se pelas armas, a planear a
guerra para ser merecedor do Nobel da Paz – 1994. Mesmo assim, a História parou
o seu comboio na Estação Arafat, em consideração ao povo que representava. Arafat hesitou
e a História partiu para sempre sem o levar.
Gabriel Vilas Boas
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