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terça-feira, 4 de novembro de 2014

MARIA DO CÉU GUERRA

Nós não nascemos para ser apagadinhos, invejosos, incapazes. Temos que nos convencer que nascemos para ser felizes, brilhantes e solidários!”  Maria do Céu Guerra


Conheci Maria do Céu Guerra há dezasseis anos, em Santa Maria da Feira, quando ela foi à cidade em que vivi durante três anos declamar poesia. Surpreendeu-me a naturalidade, a profundidade daquela voz que me fez gostar de poesia que não conhecia e que declamava poemas como se estivesse a conversar connosco. 

António Pedro Vasconcelos trouxe-a novamente para o foco mediático ao estabelecer que ela seria a âncora do seu mais recente filme, “Os gatos não têm vertigens” e ela, apesar de já ter feito setenta anos, não recusou o desafio.

Apesar do cinema, da poesia, das séries televisivas que a tornaram “aquela figura tão querida” do grande público, Maria do Céu Guerra é uma mulher do teatro. Não que tenha sido amor há primeira vista, mas acabou por ser amor para toda a vida. Por causa dele, os filhos ficaram um pouco para trás, ao cuidado da avó, no único grande arrependimento que confessa da vida. 
A “Ceição” da Residencial Tejo tem muito da atriz que Lisboa viu nascer: rústica, ingénua, simples, telúrica, meiga, maternal, doce, atrevida. 

A sua paixão pelo teatro começa quando vê uma peça sobre Anne Frank. Para ela o teatro é “algo que nos ensina a ver os outros e que nos ensina a ver-nos! O teatro é uma enorme fonte de conhecimento que não podemos desperdiçar.”

E o mínimo que se pode dizer duma das fundadoras do grupo teatro “A Barraca” é que ela aproveitou e muito bem toda a sua carreira. Como atriz, participou em peças como “Um Chapéu de Palha de Itália” de Eugène Labiche; “O Comissário de Polícia” de Gervásio Lobato, “Bodas de Sangue” de Federico García Lorca; “D. Quixote” de Yves Jamiaque; “Fedra” de Jean Racine; “Auto da Mofina Mendes” de Gil Vicente, “A Maluquinha de Arroios” de André Brun; “A Casa de Bernarda Alba” de García Lorca; “Esopaida” de António José da Silva; “Tartufo”, de Molière; “O Último Baile do Império”, de Josué Montello; “O Bode Expiatório”, de Fassbinder; “Agosto - Histórias da Emigração”; “A Relíquia”, a partir de Eça de Queiroz; “Inverno Debaixo da Mesa”, de Carson Macullers.



O seu brilho não se viu apenas enquanto atriz, pois também quis ser encenadora e assumiu a responsabilidade de dirigir os atores de “O Menino de Sua Mãe”, a partir de Fernando Pessoa; “Marly - A Vampira de Ourinhos”, original de Queiroz Telles; "Xeque-Mate”, que adaptou de Shaffer e “O Inspector Geral” de Nikolai Gogol. 

O seu talento também foi requisitado pelos cineastas portugueses, que a desafiaram em “Portugal S.A.”, de Rui Guerra ou “Crónica dos Bons Malandros”, de Fernando Lopes ou em “Anjo da Guarda”, de Margarida Gil. 

É um prazer ver, ouvir, conversar com esta atriz, que nos comove pela força do que diz e pensa, pela vontade de viver, pela energia que transporta. Há nela uma positividade, uma alegria quase infantil de ser e estar que comove. Como afirmou recentemente, “A alegria é uma construção! É quase uma coisa santa, maravilhosa! (…) Devemos lutar por ser alegres!”

Gabriel Vilas Boas


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