O conjunto habitacional «Pantera
Cor-de-Rosa», na Zona N de Chelas, marca a emancipação dos arquitetos Gonçalo
Byrne e António Reis Cabrita dos seus mestres modernos portugueses a quem devem
a formação. Com este conjunto habitacional de 382 apartamentos, os dois
arquitetos definem uma nova teia de influências para a arquitetura portuguesa.
O «Pantera Cor-de-Rosa» nasce de
uma circunstância singular. Após a realização dos bairros Olivais Norte e Sul,
a urbanização do vale de Chelas foi entregue pela Câmara Municipal de Lisboa, a
profissionais experientes que incluem nas suas equipas os jovens arquitetos
Gonçalo Byrne e António Cabrita. Os dois arquitetos tinham vencido o concurso
para o Plano da Zona da Pontinha (Faro, 1971), surgindo, com naturalidade, na
equipa dos consagrados Teotónio Pereira e Nuno Portas.
Em Chelas, a dupla Byrne/Reis
Cabrita tem ao seu dispor uma área de intervenção “nova”, distante da cidade
tradicional e sem nenhum contexto histórico de enquadramento.
A primeira inovação desta parelha
de arquitetos está na maneira como eles se propõem relacionar este edifício com
o território. O edifício «Pantera Cor-de-Rosa» reanima as relações de sociabilidade,
evocadas na sua “disposição” urbana.
E como Byrne e Reis Cabrita “criam
sociabilidade” a partir da arquitetura?
Num lugar sem qualquer referência,
os quatro blocos habitacionais recriam uma praça e ruas. Seguindo um modelo trabalhado em Milão, na
mesma altura, pelo arquiteto Carlo Aymonino, a dupla de jovens arquitetos
portugueses introduz variabilidade de formas e conteúdos na sua proposta
arquitetónica. No «Pantera» há uma proliferação de diferentes elementos que
compõem o espaço público: galerias múltiplas, cilindros que albergam caixas de
escada, passadiços entre blocos.
Os edifícios permitem leituras a
diferentes níveis. Por detrás de uma fachada mais compacta existe uma sucessão
de acontecimentos complexos. Os dois arquitetos procuraram criar um cenário
mais agradável, que amenize a dureza e monotonia dos típicos espaços de
habitação social moderna.
Sempre que Lisboa é evocada no
cinema como uma cidade não pitoresca, o edifício «Pantera Cor-de-Rosa», em
Chelas é falado. É por isso que, numa das imagens mais marcantes do filme de
Wim Wenders, “Lisbon Story”, o «Pantera» é usado como enquadramento. E isso
acentua o seu destino de ícone de uma cidade que se procurava redimensionar, há
quarenta anos, entre um subúrbio deserto, mas habitado, e um centro denso,
ainda que vazio.
Gabriel Vilas Boas
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