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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

ENTREVISTA AO DIRETOR AGNELO FIGUEIREDO (2.ª Parte)



Acha que o recente debate sobre o financiamento do ensino privado devia ser um tema prioritário no setor da educação?
Não sei. Trata-se de uma matéria que conheço mal. Mas, porque todos os anos publicito os custos reais do serviço de educação no nosso agrupamento, posso asseverar que uma turma nossa custa bastante mais do que os 80.500 euros que essa turma custaria num colégio com contrato de associação, e fiquei com a ideia de que a maior parte das pessoas ficou a pensar o contrário. Acredito que existam inúmeras razões válidas para decidir diminuir o número de turmas em contrato de associação, mas penso que a poupança de dinheiro não deve ser uma delas. E é o que posso dizer, uma vez que, como referi, conheço mal toda esta problemática.

Quem vai ganhar a “guerra” entre as editoras e o Ministério de Educação?
Acho que o Ministério tem tudo para a ganhar. Já agora, esta é uma guerra que não existiria num quadro legal de plena autonomia das escolas.


O que falta fazer para melhorar os resultados escolares?
Penso que já respondi, no essencial, quando abordei a questão da participação dos pais. Hoje, mais do que nunca, sem pais realmente interessados, sem pais que valorizem a escola, não haverá resultados animadores.

O que falta fazer para baixar os índices de indisciplina?
Para além do que já disse, urge conferir ao professor um estatuto de autoridade pública. Por outro lado, é premente que o Ministério não contribua para a perseguição dos professores quando estes se atrevem a impor a autoridade. E ainda este ano tive um caso desses.

Acrescento que, eventualmente, um sistema de transição automática poderia minorar a eclosão de comportamentos disruptivos precoces. Contudo, o preço não seria despiciendo, uma vez que, muito provavelmente, iria desabar no 9.º ano uma legião de iletrados que não o conseguiria concluir. Mas, ainda assim, as vias alternativas poderiam, nessa altura, vir a dar resposta à continuidade dos alunos, com posterior encaminhamento para vias profissionalizantes de nível secundário. De resto, a idade dos alunos no final do 9.º ano já não é propícia a que então descambem. Poderia ser uma forma de minorar a indisciplina, sim.


Que balanço faz ao trabalho realizado pelo atual Ministro da Educação?
Desde logo, fui e sou muito crítico da decisão de eliminar os exames dos 4.º e 6.º anos. Os exames, contrariamente a muitos discursos inflamadamente proferidos, não chumbavam alunos. Pelo contrário, tendo em conta o peso que tinham, os exames até podiam permitir que alunos reprovados pudessem vir a reunir condições de transição. Era bom que isto ficasse bem claro. É que a real necessidade dos exames não tem nada a ver com chumbos, mas antes com a disponibilização de dados que permitiam que as escolas fizessem benchmarking, que investigassem práticas das suas congéneres, que reflectissem e que tomassem medidas com vista à melhoria das aprendizagens. E isso perdeu-se inexoravelmente com o fim dos exames.

Depois, e embora nunca a tenha podido utilizar, uma vez que não somos TEIP nem temos contrato de autonomia, não achei nada bem a eliminação da BCE, que era uma forma de conferir às escolas uma capacidade mínima para seleccionar docentes. A BCE tinha problemas, sim, mas de ordem técnica, sobretudo no primeiro ano, com autênticas barracadas que tardaram em ser resolvidas e que acabaram por inquinar o processo aos olhos da opinião pública. Contudo, o seu racional era o correto.

Quanto ao resto, naquilo que concerne ao quotidiano da Escola, o actual Ministro não se distingue dos seus antecessores.

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