Não sã os professores que “inventam” alunos com Necessidades
Educativas Especiais, pois a avaliação depende também de um relatório do
psicólogo e de outro de um pedopsiquiatra; não são os encarregados de educação
que procuram este estatuto para os seus educandos, pois sabem bem quanto
estigma transporta, mas é o Ministério da Educação que viola as suas próprias
regras, ao colocar mais de dois alunos com NEE, por turma de vinte alunos
(pegando, no meu caso particular: sou DT de uma turma com cinco alunos com NEE
e só ao fim de três anos atingimos os vinte alunos por turma. O número foi
sempre maior!), ou então coloca um aluno com NEE em turmas de 25/26 alunos.
Os alunos com NEE representam mais de 7% da população
escolar. Precisam de um acompanhamento sistemático, de grande amplitude e exigente coordenação. Precisam de professores, técnicos, terapeutas, psicólogos,
pedopsiquiatras, auxiliares de ação educativa. Não precisam que os enjaulem
numa sala sem condições e os ponham a ver televisão, a fazer sempre os mesmo
jogos infantis, a terem passagens administrativas até ao fim da escolaridade
obrigatória para calar a revolta dos pais.
Claro que os alunos com NEE custam mais dinheiro que os
outros. No entanto, ao contrário do dinheiro gasto com bancos falidos, é um
dinheiro muito bem gasto, pois cada criança com NEE, alvo de uma educação
especial correta, será um cidadão mais completo, confiante e capaz. E é nisso
que a sociedade deve gastar o seu dinheiro.
Não é apenas o Ministério da Educação que tem de abrir os
cordões à bolsa e investir planeadamente em recursos humanos (sobretudo) e
materiais para estas crianças. Alguns diretores escolares (sobretudo ao nível
do ensino secundário) tem de abrir a mente e as suas escolas a estes alunos. Conheço
escolas secundárias que sempre desprezaram este tipo de alunos, procurando encaminhá-los
para a Cerci mais próxima, para as escolas profissionais ou inseri-los
rapidamente no mundo do trabalho. Conheço professores Educação Especial que têm tanto
receio que os seus alunos de 14/15 anos sejam “abandonados” na escola secundária
da sua cidade ou vila, que sugerem que eles não transitem de ano para poder
continuar a trabalhar com eles, dando-lhes progressivamente as ferramentas
necessárias para transitarem para a vida ativa minimamente preparados.
Os alunos com necessidades educativas especiais não são uns
coitadinhos nem precisam de caridadezinha educativa. Precisam que se cumpra a
lei e lhes seja dado aquilo a que têm direito. Quem não for capaz disso, não
serve para exercer o cargo para que foi eleito ou escolhido, seja ele ministro,
diretor ou coordenador.
Gabriel Vilas Boas
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