1.ª PARTE
Quais as motivações que estiveram na base da sua candidatura ao cargo de diretor do seu Agrupamento? Quais foram os seus maiores desafios?
Para responder à questão da motivação, teria de recuar a 1988, ano em que, pela primeira vez, me candidatei em lista ao Conselho Diretivo da Escola Secundária. Era uma altura muito especial porque a escola iria ocupar instalações novas a estrear. Era um desafio muito forte. Era quase como montar uma escola de raiz. E, essa terá sido a principal motivação.
Depois, com uma curta interrupção, foram 20 anos que passaram muito rapidamente até 2008 e ao DL 75/2008, na sequência do qual apresentei candidatura a director. Passados 2 anos, em 2010, fui escolhido pelo Ministério para presidir à Comissão Instaladora do então constituído Agrupamento de Escolas de Mangualde. Nessa altura, o desafio era ainda maior uma vez que não tinha sido pacífico, mesmo nada, o processo de junção das três escolas, tendo ficado muitas feridas por sarar, algumas das quais ainda hoje persistem. Era precisa uma pessoa capaz de estabelecer pontes e gerar consensos, para além de experiência de gestão e competências específicas, o que me levou a avançar. E, num Conselho Geral altamente partidarizado, acabei por vencer com 11 votos contra 10 do outro candidato.
Um estudo recente de Joaquim Azevedo evidenciou uma classe docente desmotivada. Como estão os seus professores?
Da minha já longa experiência, acho que esse não é um fenómeno de agora. Sempre houve professores desmotivados. Há 30 anos também havia professores com pouca dedicação à escola. Era o tempo em que se procurava um horário com tardes e/ou dias livres para se compor o vencimento dando aulas num colégio, numa escola profissional, num centro de explicações e por aí fora. A escola vinha em segundo lugar. Por isso, os efeitos acabavam por ser os mesmos do que agora. De resto, os professores hoje desmotivados são praticamente os mesmos que há 20 anos.
Mas nesta lógica de motivação, há um aspeto que me surpreende. É que, mais que desmotivados para o seu exercício profissional, vejo os professores demasiado cansados até para lutar pelos seus direitos. Lutar por melhores condições. Repare-se que vamos com mais de oito anos de congelamento das progressões. São dois escalões remuneratórios. Ora, se já se fizeram tantas greves e manifestações por razões quantas vezes fúteis, não seria esta uma razão fortíssima para os professores se mobilizarem? Ainda mais quando já foi declarado o fim da austeridade? Acho isto paradoxal.
Se pudesse escolher os professores e os funcionários do seu Agrupamento exerceria esse poder? Por quê?
Sem qualquer dúvida. Os professores deviam ser selecionados e contratados pelo órgão de topo de cada escola, que actualmente é o Conselho Geral. Essa seria a única forma de conferir real autonomia à escola e de lhe poder, legitimamente, exigir responsabilidades. Seria, também, a forma de acabar com o autêntico desvario que é a dança anual de professores, com todos os inconvenientes para a criação de equipas pedagógicas estáveis. Cabe aqui dizer que a forma de colocação de professores que temos tido, tem sido acerrimamente defendida pelos sindicatos, exactamente por conseguir atingir o efeito que eles pretendem: a proletarização dos docentes. Contudo, existe uma evidência que não se pode escamotear e que é: "Os professores não são todos iguais e todos igualmente proficientes". Não são. Por isso, fico triste quando vejo que os professores se têm em tão pouca conta, como decorre dos resultados do inquérito que o "Com regras" fez. O concurso centralizado parte do princípio que tanto vale um professor como outro qualquer. Ora, um professor que se acha igual a qualquer outro tem-se em fraca conta. Acaso os médicos serão todos iguais? Tanto faz ser operado por um ou por outro? E os advogados? Se tivermos hipóteses, fazemos escolhas, ou não? Isto, além do mais, é uma lástima para a minha classe profissional, para os professores.
Quais as limitações que a Lei e a tutela lhe impõem que mais condicionam o seu trabalho?
A obsessiva centralização do sistema é asfixiante, como é deprimente a desconfiança da administração educativa relativamente ao trabalho nas escolas. É infindável o número de “merdinhas” emanadas dos serviços centrais e regionais que têm de ser meticulosamente executadas, quantas vezes com prazos incumpríveis. É como tenho dito: Enche-se a boca com a autonomia mas cada vez mais se indiferenciam as escolas, fazendo tábua rasa das suas especificidades e tratando-as como meras delegações do omnipotente Ministério da Educação. Péssimo!
Que estratégias devem ser prosseguidas para atrair os pais e restante comunidade educativa a uma maior participação na Escola?
Contrariamente ao que a pergunta induz, a participação dos pais na escola e na vida escolar dos filhos é crescente e não tem paralelo com o que se passava há 20 ou 30 anos. O que hoje acontece é algo de diferente. É que a escola acolhe hoje, e bem, uma gama de alunos que dantes a abandonava precocemente. Grande parte deste “novos” alunos é oriunda de meios sociais carenciados e tem agregados familiares instáveis, quando não desestruturados e disfuncionais. Malogradamente, é nestes estratos que a taxa de natalidade tem ainda alguma expressão, o que leva a que a percentagem deste tipo de alunos seja crescente. Ora, hoje, são principalmente os pais desses alunos os que não participam nem se interessam pelo percurso escolar dos filhos, isto é, exactamente aqueles que os professores e directores de turma mais gostariam de ter na escola.
Este é um problema com solução muito difícil no curto prazo, o qual, todavia, poderia ser encurtado através de políticas de incentivo e desencorajamento, mormente através da ponderação das prestações sociais pecuniárias.
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