Um relacionamento é entrar na intimidade do outro, ao mesmo
tempo que aprofundamos a nossa. Um re-lação
não é mais que uma repetição de “laços”, de “nós”, em que cada um mantém e
alimenta um aspeto da relação.
Por isso, a relação é uma construção, uma alteridade, uma
reciprocidade e não uma indiferença em que aquele(a) com quem nos relacionamos
só interessa na medida dos nossos interesses.
O outro é um ser dotado de individualidade e autonomia, que
precisam de ser compreendidas e respeitadas. Partindo desta premissa essencial,
é possível fazer crescer uma relação, mas é preciso mais… instalar a
reciprocidade, ou seja, a capacidade de alimentar permutas, de partilhar.
Em última análise, não é o amor que mantém uma relação, mas
a qualidade da própria relação.
Frequentemente confundimos relação com comunicação ou com
emoções, ou com sentimentos. Comunicamos com a vizinha, emocionamo-nos com o Ronaldo
e nutrimos amor por uma determinar pessoa, mas a verdade é que não nos
relacionamos com nenhuma delas.
Relação, comunicação, emoção e sentimentos são coisas bem
diferentes.
No mundo da comunicação em que vivemos, estabelecemos inúmeros
contactos diários com várias pessoas, mas isso está longe de determinar um
sentimento quanto mais uma relação.
A justificação de um sentimento vai muito
além da mera casualidade sugerida por Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser. O sentimento é também diferente da
emoção. Vejo esta como algo momentâneo, com uma causa exterior a nós. Pode
caminhar e desenvolver-se num sentimento ou não, mas não se confunde com ele. O
sentimento depende de nós, do nosso livre arbítrio, da nossa escolha.
É preciso perceber que um sentimento não é uma relação, mas
pode caracterizá-la. Uma relação resulta sempre de uma escolha livre. Acontece quando
alguém autodetermina o seu caminho independentemente das suas tendências, da
influência dos outros, das circunstâncias.
Autodeterminar-se é das coisas mais complexas e difíceis,
porque entre nós deixamos crescer “autossabotadores”. Os autossabotadores
alimentam-se de dúvidas, dos medos, da culpabilização permanente, do
egocentrismo, da procrastinação… É por causa deles que muitas relações se
baseiam no medo e no controlo em vez de se basearem na liberdade e na
confiança.
Um relacionamento verdadeiramente livre fundamenta-se na
honestidade, no amor incondicional, na confiança absoluta, com compromisso (em
primeiro lugar e antes de mais consigo próprio), enquanto um relacionamento nascido
no medo vive do segredo, da manipulação, do mistério que causa a dependência, da
necessidade de controlo.
A escolha é fácil e óbvia. O problema é que muitas vezes
pensamos que somos sócios do primeiro, mas praticamos o segundo.
O medo nunca foi sinónimo de liberdade.
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