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terça-feira, 5 de julho de 2016

RELACIONAMENTO(S)


Um relacionamento é entrar na intimidade do outro, ao mesmo tempo que aprofundamos a nossa. Um re-lação não é mais que uma repetição de “laços”, de “nós”, em que cada um mantém e alimenta um aspeto da relação.
Por isso, a relação é uma construção, uma alteridade, uma reciprocidade e não uma indiferença em que aquele(a) com quem nos relacionamos só interessa na medida dos nossos interesses.
O outro é um ser dotado de individualidade e autonomia, que precisam de ser compreendidas e respeitadas. Partindo desta premissa essencial, é possível fazer crescer uma relação, mas é preciso mais… instalar a reciprocidade, ou seja, a capacidade de alimentar permutas, de partilhar.
Em última análise, não é o amor que mantém uma relação, mas a qualidade da própria relação.

Frequentemente confundimos relação com comunicação ou com emoções, ou com sentimentos. Comunicamos com a vizinha, emocionamo-nos com o Ronaldo e nutrimos amor por uma determinar pessoa, mas a verdade é que não nos relacionamos com nenhuma delas.

Relação, comunicação, emoção e sentimentos são coisas bem diferentes. 
No mundo da comunicação em que vivemos, estabelecemos inúmeros contactos diários com várias pessoas, mas isso está longe de determinar um sentimento quanto mais uma relação. 
A justificação de um sentimento vai muito além da mera casualidade sugerida por Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser. O sentimento é também diferente da emoção. Vejo esta como algo momentâneo, com uma causa exterior a nós. Pode caminhar e desenvolver-se num sentimento ou não, mas não se confunde com ele. O sentimento depende de nós, do nosso livre arbítrio, da nossa escolha.

É preciso perceber que um sentimento não é uma relação, mas pode caracterizá-la. Uma relação resulta sempre de uma escolha livre. Acontece quando alguém autodetermina o seu caminho independentemente das suas tendências, da influência dos outros, das circunstâncias.
Autodeterminar-se é das coisas mais complexas e difíceis, porque entre nós deixamos crescer “autossabotadores”. Os autossabotadores alimentam-se de dúvidas, dos medos, da culpabilização permanente, do egocentrismo, da procrastinação… É por causa deles que muitas relações se baseiam no medo e no controlo em vez de se basearem na liberdade e na confiança.

Um relacionamento verdadeiramente livre fundamenta-se na honestidade, no amor incondicional, na confiança absoluta, com compromisso (em primeiro lugar e antes de mais consigo próprio), enquanto um relacionamento nascido no medo vive do segredo, da manipulação, do mistério que causa a dependência, da necessidade de controlo.

A escolha é fácil e óbvia. O problema é que muitas vezes pensamos que somos sócios do primeiro, mas praticamos o segundo.
O medo nunca foi sinónimo de liberdade.

Gabriel Vilas Boas 

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