O “The Sun” publicava esta segunda-feira uma foto arrepiante da antiga estrela do futebol inglês Paul Gascoigne. “Gaza” saia de um táxi, em roupão, velhíssimo, escanzelado, cigarro na boca, aparentemente alcoolizado. Segundo o jornal inglês, Paul Gascoigne mal conseguia falar e quando tropeçou no roupão ficou nu. Paul tinha saída para comprar álcool, cigarros e analgésicos, mas a figura que vagueou pelas ruas impressionou tanto que a foto teve reações em todo o mundo. A degradação daquele futebolista atingiu um ponto tal que nenhuma pessoa que viu jogar Paul Gascoigne consegue deixar de ficar chocado.
Paul era um portento de força e técnica, o verdadeiro representante do futebol inglês que se destacou no início da década de 90 do século XX. Paul ainda não completou cinquenta anos, mas parece caminhar apressadamente para a morte tal os destemperos a que sujeita o corpo.
O mundo do futebol está cheio de exemplo destes. Estrelas cintilantes que sucumbiram aos vícios da vida, como o álcool ou a droga, e rapidamente se degradaram a um ponto inimaginável, enchendo de tristeza os milhões de fãs que lhes bateram palmas, que entoaram o seu nome nos estádios e lhes elogiaram as qualidades técnicas e táticas só ao alcance de poucos.
A história do futebol está cheia de casos iguais ao de Paul Gascoigne. Quem não se lembra do genial norte-irlandês George Best, melhor jogador do mundo em 1968, ano em que levou o Manchester United à vitória na Taça dos Campeões Europeus sobre o Benfica de Eusébio, para quem o futebol de alto nível acabou antes do tempo e o final da vida chegou antes dos 60 anos, fruto de uma vida cheio de álcool e mulheres. É dele a arrepiante frase: “Em 1969 deixei o álcool e as mulheres; foram os piores 20 minutos da minha vida.”
O Brasil também teve o seu génio caído em desgraça: Garrincha, o único brasileiro que nos anos 50 e 60 disputava o trono ao rei Pelé. Era um atacante fabuloso, capaz de fazer jogadas incríveis, dribles inesquecíveis, mas que nunca conseguiu derrotar o álcool, que o levou para a morte em 1983, impedindo-o de chegar aos 50 anos.
Em Portugal, a gente ligada ao futebol lembrar-se-á de Vítor Batista, um jogador acima da média, que jogou com a mítica equipa de Eusébio nos anos sessenta. Vitor Batista tinha tanto de génio como de louco. Era um excêntrico e um dia interrompeu um Sporting-Benfica para pôr toda a gente a procurar um brinco que lhe havia caído para o relvado. Também acabou aos cinquenta anos, derrotado pelo álcool e pelas drogas, em 1999.
Contemporâneo de Paul Gascoigne é Diego Armando Maradona, o mais fabuloso jogador que vi jogar. Campeão do Mundo em 1986, no México, pela sua Argentina, Maradona também sucumbiu às malhas do vício, em especial à cocaína. Fez tratamento e teve recaídas. Pelo menos duas vezes já esteve perto da morte, mas tem-se conseguido reequilibrar e parecem longe os tempos em que a degradação física, moral e social parecia ser a sua estrada.
Paul Gascoigne é só o último exemplo de uma longa lista de futebolistas que conheceram a fama, a glória, uma vida luxuosa, mas acabaram de um modo chocante e degradante.
Hoje o desporto faz e desfaz heróis quase à velocidade da luz. Poucos conseguem entrar no coração dos fãs como Maradona, Gaza ou Garrincha, mas seriam interessante que os heróis de hoje não nos dessem mais desgostos no futuro.
Gabriel Vilas Boas
Gabriel Vilas Boas
Nao gosto de futebol, aquilo que da modalidade conheço é o mínimo dos mínimos (um ou outro blogue, um ou outro texto na imprensa escrita/online mas, convenhamos, e com o devido respeito, há no seu post algo de paternalista que não entendo, como não entendo, aliás, a necessidade de ter/manter "heróis".
ResponderEliminarEstamos a falar de pessoas, tão excepcionais quanto falíveis...
Obrigado pelo seu comentário, Alexandra.
ResponderEliminarEntendo perfeitamente as suas palavras, até pela sua frase inicial. Quando não gostamos de determinada área (e acontece com todos) normalmente não percebemos a importância que outras pessoas lhe dão, o destaque da imprensa, os milhões que move, as emoções que suscita.
Agora peço-lhe que leia o texto sob outra perspectiva: em vez de jogadores de futebol, coloque lá pessoas que admira, que se destacaram socialmente em algo de que gosta muito e segue com interesse. Estou certo que lamentará bem mais a sua má fortuna, a maneira desgraçada como conduziram as suas vidas... Contudo, esta é só a minha perspectiva, nada mais!
Mas era aí que eu queria chegar, Gabriel, estes "heróis" cedem à tremenda pressão a que são submetidos, e nessa pressão vai dentro o séquito de admiradores, por muito que os 'alimentem'...Eu falei do futebol por ser em torno de algumas figuras da modalidade que o seu texto foi escrito, mas quantas serão nas áreas que me despertam interesse? Cinema, literatura, etc.
ResponderEliminar_________
Continuo a compreender ainda hoje muito bem algumas figuras que fogem dos holofotes tanto quanto possível, como garante da sua estabilidade emocional. Excesso de plateia - dentro e fora dela - terá sempre consequências nefastas.
Ora experimente atirar um microfone da CMTV a um lago e sentir o relaxamento que isso lhe traz... :)
Desde que o meu filho era pequeno que sempre lhe disse para admirar a arte e não o artista, pois a maior parte destes génios da bola, do cinema ou da música são seres humanos cheios de falhas de personalidade, com comportamentos aditivos e vidas pouco exemplares para serem seguidas.Lamentavelmente...
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