Ao que parece a União Europeia pode multar Portugal porque
excedeu o deficit previsto para 2015 em 0,2% do orçamento. Ainda que António
Costa tenha retorquido que era ridículo penalizar um país por uma falha de
0,2%, Maria Luís Albuquerque tinha razão: o problema é não era o deficit, mas o
titular da pasta das Finanças. É verdade: se fosse ela ministra das Finanças de
Portugal, o nosso país jamais seria sancionado. Durante quatro anos, Portugal
sempre “furou” o deficit e nunca foi penalizado. A chave era a cor política do
governo: a Alemanha jamais deixaria que um governo de direita, que cumpria com
todas as ordens emanadas de Berlim sofresse qualquer penalização, não fosse o
povo desse país acordar para a vida e perguntar-se “Que mais quer Merkel e a
Alemanha, se já somos governados pela «sua gente»?”
Costa bem pode dizer que está a cumprir com a execução
orçamental, que o problema foi do governo de Passos e Maria Luís, que 0,2% é um
desvio ridículo, que o tratado orçamental já sofreu mais transgressões que o
código da estrada, que o resultado será o mesmo.
Lentamente as peças vão-se encaixando e tudo se torna mais
claro, agora com dados vindos de dentro do governo, ainda que oficiosamente.
Hoje o DN, dizia que a maior ameaça ao deficit público deste ano vinha da
banca. Mas havia de vir de onde? Do extraordinário aumento de 70 cêntimos por
dia do salário mínimo? Os cortes que o governo teve de impor aos portugueses
foram por causa dos BPN, dos BES, dos BCP, dos Montepio e dos Banif's desta vida. Foi por causa
deles e das PPP que houve resgate. Mas nunca a troika, a União Europeia, o
Bundesbank, o FMI exigiu que os conselhos de administração desses bancos ou
dessas empresas público-privadas prestassem contas, fossem afastadas ou
respondessem criminalmente. Para eles um banco “perder” milhões (na verdade “perder”
é um eufemismo de desvio) é perfeitamente aceitável; como é aceitável que o
país se endivide mais e mais para pagar esses “desvios” colossais. E como o
país já não tem dinheiro para manter a gula dos “Goldman Sachs” da nossa perdição, há
que privar os portugueses de mais uma fatia dos míseros ordenados /reformas que
recebem.
Somos uns tolos e uns cobardes. Deixamo-nos enredar nesta teia
e agora não conseguimos sair dela sem dor, uma grande dor. Eles também nos
causam dor, mas é lenta. Morrer em câmara lenta deve ficar bem na fotografia.
Entretanto vamos sendo gozados de toda a forma e feitio:
hoje, a "belíssima" Christine Lagarde vem dizer que os bancos portugueses são um
risco para a economia mundial! Uau! Então os nossos banquinhos falidos e
corruptos são um perigo para a economia mundial? A alta finança mundial deve
estar já a tremer… de riso, só pode!
Quando se trata de justificar o injustificável, até o
ridículo e o burlesco não têm limite.
Realmente, Portugal tem um enorme deficit estrutural: não pensa.
Obedece e é tudo. O grande deficit deste país é mental.
Gabriel Vilas Boas
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