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terça-feira, 19 de julho de 2016

O DEFICIT MENTAL


Ao que parece a União Europeia pode multar Portugal porque excedeu o deficit previsto para 2015 em 0,2% do orçamento. Ainda que António Costa tenha retorquido que era ridículo penalizar um país por uma falha de 0,2%, Maria Luís Albuquerque tinha razão: o problema é não era o deficit, mas o titular da pasta das Finanças. É verdade: se fosse ela ministra das Finanças de Portugal, o nosso país jamais seria sancionado. Durante quatro anos, Portugal sempre “furou” o deficit e nunca foi penalizado. A chave era a cor política do governo: a Alemanha jamais deixaria que um governo de direita, que cumpria com todas as ordens emanadas de Berlim sofresse qualquer penalização, não fosse o povo desse país acordar para a vida e perguntar-se “Que mais quer Merkel e a Alemanha, se já somos governados pela «sua gente»?”
Costa bem pode dizer que está a cumprir com a execução orçamental, que o problema foi do governo de Passos e Maria Luís, que 0,2% é um desvio ridículo, que o tratado orçamental já sofreu mais transgressões que o código da estrada, que o resultado será o mesmo.

Lentamente as peças vão-se encaixando e tudo se torna mais claro, agora com dados vindos de dentro do governo, ainda que oficiosamente. Hoje o DN, dizia que a maior ameaça ao deficit público deste ano vinha da banca. Mas havia de vir de onde? Do extraordinário aumento de 70 cêntimos por dia do salário mínimo? Os cortes que o governo teve de impor aos portugueses foram por causa dos BPN, dos BES, dos BCP, dos Montepio e dos Banif's desta vida. Foi por causa deles e das PPP que houve resgate. Mas nunca a troika, a União Europeia, o Bundesbank, o FMI exigiu que os conselhos de administração desses bancos ou dessas empresas público-privadas prestassem contas, fossem afastadas ou respondessem criminalmente. Para eles um banco “perder” milhões (na verdade “perder” é um eufemismo de desvio) é perfeitamente aceitável; como é aceitável que o país se endivide mais e mais para pagar esses “desvios” colossais. E como o país já não tem dinheiro para manter a gula dos “Goldman Sachs” da nossa perdição, há que privar os portugueses de mais uma fatia dos míseros ordenados /reformas que recebem.

Somos uns tolos e uns cobardes. Deixamo-nos enredar nesta teia e agora não conseguimos sair dela sem dor, uma grande dor. Eles também nos causam dor, mas é lenta. Morrer em câmara lenta deve ficar bem na fotografia.
Entretanto vamos sendo gozados de toda a forma e feitio: hoje, a "belíssima" Christine Lagarde vem dizer que os bancos portugueses são um risco para a economia mundial! Uau! Então os nossos banquinhos falidos e corruptos são um perigo para a economia mundial? A alta finança mundial deve estar já a tremer… de riso, só pode!
Quando se trata de justificar o injustificável, até o ridículo e o burlesco não têm limite.
Realmente, Portugal tem um enorme deficit estrutural: não pensa. Obedece e é tudo. O grande deficit deste país é mental.

Gabriel Vilas Boas

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