Ontem, em Almeirim, 23 nepaleses foram libertados da
escravidão pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras português.
Não há outra maneira de olhar para o estado em que aqueles
pobres homens eram mantidos, numa propriedade perto de Almeirim, onde foram
trazidos para trabalharem na apanha de morangos.
Foram encontrados em quatros muito pequenos, sem janelas,
vivendo em condições indignas do ser humano. Não falam português, mas conseguem
contar como aquilo que lhes prometeram nunca foi cumprido. Percorreram mais
de oito mil quilómetros (nove vezes a extensão da costa de Portugal
continental) para assinar um contrato de 500 euros, às escuras, numa língua que
não falavam nem entendiam e onde era suposto que fosse acrescentado o subsídio de
alimentação. Da comida, engoliram apenas batatas, massa, arroz e cebola e o
alojamento era-lhes descontado no ordenado.
O SEF prendeu três energúmenos, pois chamar-lhes indivíduos
é um claro exagero. Infelizmente, estes três espécimes são apenas uma gota no
imenso oceano do tráfico humano. No final do ano passado, a ONU calculava que
que mais de 21 milhões de pessoas (o dobro da população de Portugal) eram
vítimas de trabalho escravo, mas apenas 10% é apanhado.
Este não é apenas um problema dos países pobres, dos
regimes ditatoriais, dos negros ou dos amarelos, mas sim de todos nós que assistimos
a esta degradação da condição humana como Pôncio Pilatos. Não pressionamos os
nossos governos, não enviamos uma mensagem clara sobre quanto estamos
empenhados em erradicar o trabalho escravo. Bem pelo contrário, os sinais que
damos são em sentido contrário. Quando os nossos países passam dificuldades
achamos que elas provêm de uns pobres miseráveis que atravessaram o mediterrâneo para
fugir à morte certa da guerra e não de uns quantos governantes corruptos que
torraram as nossas reservas em resorts de luxo. Queremos um Reino livre de
gente pobre, queremos a nossa pátria livre de refugiados.
Na verdade o verdadeiro problema é que a pobreza de espírito tornou-nos o verdadeiro refugo da
humanidade, perfeitos escravos da maldade.
gavb
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