Guterres e Durão Barroso –
ambos chefiaram o governo português, ambos saíram do cargo antes do tempo por
vontade própria, ambos ocuparam lugares de destaque a nível internacional, mas
a comparação deve ficar para aí, porque tudo o resto os distingue, sobretudo a
nível ético. Durão procurou subir nada vida, Guterres procurou cumprir a vida.
Há uns dias, soube-se que
Durão Barroso ia ocupar um cargo de relevo na Goldman Sachs, o banco mais
odioso do mundo, onde os lucros atingem número pornográficos face às
dificuldades económicas que muitos povos sentem; ontem soube-se que António
Guterres venceu a primeira etapa da corrida ao cargo Secretário-Geral da ONU.
Ainda haverá mais três, até Outubro, altura em que os países que formam o
Conselho de Segurança decidirão quem liderará a ONU, nos próximos anos.
Os primeiros resultados, ainda
que preliminares, são muito animadores: 12 dos 15 votantes, decidiram encorajar António Guterres a prosseguir
a sua candidatura e nenhum se pronunciou contra ele.
As candidaturas melhor
posicionadas são aquelas que revelam um conhecimento profundo dos projetos das
Nações Unidas, como é o caso de António Guterres que nos últimos dez anos foi o
Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Guterres parte para esta
corrida, ao mais alto cargo da ONU, com elevadas expectativas, fruto do excelente
trabalho que realizou no ACNUR, mas também com uma enorme óbice: a vontade de
muitos países em eleger uma mulher como Secretária-Geral da ONU.
Apesar desta contrariedade, o antigo primeiro-ministro português não se encolheu e mostrou, no primeiro debate entre candidatos, que era o mais bem preparado, o que veio a ser confirmado por esta votação preliminar. Por outro lado, Guterres firma a sua candidatura em propostas consistentes e válidas e não apenas no curriculum.
O homem que abandonou o poder
em Portugal no início deste século propõe duas grandes medidas: a reformulação
do Conselho de Segurança e a paridade entre homens e mulheres, nos cargos das
Nações Unidas. Com a segunda proposta, Guterres pretende sensibilizar todos
aqueles que acham que agora chegou a vez de uma mulher presidir aos destinos da
ONU; com a primeira proposta Guterres dá mostra de querer mudar a configuração
do poder na ONU de molde a dotá-la de uma intervenção mais eficaz nos grandes
problemas que afligem os povos.
E, indubitavelmente, a grande
questão da atualidade é o problema dos imigrantes que entraram na europa e que
ninguém quer receber. Como antigo ACNUR, Guterres é a pessoa mais qualificada
para liderar a resolução deste problema.
Como escreveu recentemente o “The
Guardian”, António Guterres tem o perfil mais adequado para o cargo, até porque
é um orador eloquente e apaixonado, que sente verdadeiramente os problemas dos
mais vulneráveis, das mulheres e das crianças. Guterres é um pacificador nato.
Os portugueses podem achar o
antigo secretário-geral do PS algo mole para governar Portugal, mas todos lhe
reconhecem atributos humanos e técnicos de grande categoria. Sabem que o seu
interesse pelas pessoas não é circunstancial nem fingido e que o cargo de
Secretário-Geral da ONU lhe assenta na perfeição, pois têm a certeza que ele
lutará para acabar com todas as grandes ameaçam que cercam a paz mundial: o
racismo, a xenofobia, a islamofobia, o antissemitismo, o egoísmo, o
materialismo.
Ainda é cedo para cantar vitória, mas Guterres é um dos
poucos políticos de que Portugal se pode orgulhar pela sua ação além-fronteiras;
um homem que honrará os valores humanistas que fazem parte da matriz nacional.
Gabriel Vilas Boas
Sem comentários:
Enviar um comentário