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quinta-feira, 21 de julho de 2016

DESPREZO OLÍMPICO


O que se passou com a convocatória da seleção portuguesa de futebol para os Jogos Olímpicos é vergonhoso.
Para quem não está inteirado (que vocábulo tão português), descrevo rapidamente o sucedido: Rui Jorge (o selecionador nacional) telefonou a 57 jogadores a pedir-lhes (nalguns casos a suplicar-lhes) para aceitarem a convocatória para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, para obter 18 aceitações.
Obviamente não vão ao Brasil os nossos melhores futebolistas com menos de 23 anos, mas uma terceira equipa, pois em cada três jogadores contactados, dois recusaram. Na verdade foram obrigados a recusar.

Os grandes responsáveis por esta pouca vergonha, por esta falta de sentido patriótico, ético e desportivo são os dirigentes do Porto, Benfica, Sporting, Braga que impediram os seus jogadores de ir aos Jogos do Rio. Impediram até os jogadores que emprestaram a clubes de menor dimensão nacional.
Isto só é possível porque a FIFA não obriga os clubes a ceder os jogadores à representação olímpica, não lhes impondo qualquer castigo. Tacitamente até os apoia, porque a FIFA não quer os torneios olímpicos de futebol tenham qualquer visibilidade mediática, de molde a não fazerem concorrência televisiva e económica aos seus próprios torneios.

No meio disto tudo, os jogadores são tratados como autênticos joguetes nas mãos dos seus clubes, que tomaram esta decisão tão desumana e eticamente reprovável. 
Desumana, porque para a maioria destes jogadores participar nuns Jogos Olímpicos é um momento único na vida de qualquer desportista e essa oportunidade só ocorre uma vez na vida, até pelo constrangimento da idade (devem ser atletas com menos de 23 anos, com a exceção de três).
Além da posição ignóbil dos clubes, a Federação Portuguesa de Futebol também não fica bem na fotografia. Um instituição de utilidade pública tem deveres para com o país e podia ter “obrigado” os clubes a ceder os seus melhores jogadores. É o nome do país que está em jogo e a FPF não se devia encolher.

Os media também fizeram menos do que podiam. Durante o Euro 2016, tivemos uma telenovela com o microfone da CMTV que Ronaldo atirou ao lago, agora não temos uma página de indignação por este desprezo que os clubes de futebol dedicam aos Jogos Olímpicos.
Se a Federação, os clubes, os media desprezam assim o melhor e maior acontecimento desportivo que existe no planeta, o melhor é ser coerente e abdicar de lutar pelo objetivo da qualificação.
Acho que o COI (Comité Olímpico Internacional) devia tomar nota desta situação e castigar os países que tanto desprezam esta nobre competição, impedindo-os de participar na próxima edição em que obtivessem qualificação.

Os Jogos Olímpicos simbolizam o que de melhor o desporto tem. O futebol tem de decidir se, em primeiro lugar, é só um negócio ou um desporto. Talvez os dirigentes não se tenham apercebido de que o negócio só funciona na perfeição porque para os adeptos o futebol nunca deixou de ser um desporto. É por ser um desporto que move paixões. E os negócios precisam das paixões para serem um sucesso.
gavb

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