Nuno Crato dixit. Não pode, não tem nem nunca terá. Ainda
bem, mas se tivesse não vinha mal nenhum ao mundo, desde que esses doutores
assegurassem, com competência, as diversas funções de uma sociedade, em permanente
evolução e progresso.
A questão dos “doutores”, em Portugal, tem muito mais que
ver com o estatuto social do que com a competência técnica, infelizmente. E é esse
reconhecimento social que muitos jovens procuraram. Ora isso é perfeitamente
legítimo. Todo e qualquer cidadão deve poder, em tese, almejar obter a melhor
consideração social possível.
Claro que o país precisa de jovens formados para as profissões
técnicas, mas a formação disponível nesta área é pífia. Nuno Crato repescou a
ideia do ensino dual, com a criação, desde o 5.º ano de escolaridade, do ensino
vocacional.
Se Crato acha que era com os cursos vocacionais que ia dotar o país de técnicos de excelência ou era ingénuo ou mal-intencionado.
Por que não propôs os Cursos Vocacionais aos alunos de excelência do 1.º ciclo
ou do 2.º ciclo, já que eles eram tão bons e tão precisos? Por que é que os
colégios de referência e com tanto sucesso e tanta qualidade não promoveram os
Cursos Vocacionais, atraindo a nata dos alunos para esses cursos tão
necessários ao país? Por que é que apenas os alunos em risco de abandono
escolar, com algumas retenções já no curriculum e pertencentes a famílias de
baixos recursos eram encaminhados para o ensino vocacional?
Claro que o país não pode ter só doutores, mas Crato é um
doutor, os deputados são doutores, a maioria dos cargos de topo da
administração (para não dizer a totalidade) ficam destinados aos “doutores”.
Antes de dizer que “Portugal não pode ter só doutores”, Crato devia dizer que
aqueles que não o são recebem excelente formação como se prova com o exemplo X,
Y ou Z; devia explicar que os “não doutores” alcançam com a mesma facilidade os
cargos de topo na administração pública ou no setor privado como era facilmente
verificável no caso do ministro tal, do presidente da Câmara Y, do
diretor-geral da conceituada empresa X.
O que subliminarmente Crato vem dizer aos jovens portugueses
é que alguns jovens devem ser empurrados, desde os 10 anos, para um caminho que
lhes reduzirá substancialmente as hipóteses de um reconhecimento/ascensão social,
por muito palerma e pífio que seja, é o que temos e parece que ninguém quer abdicar
dele.
Se um jovem quer ser doutor, deixá-lo ser; o que importa é garantir que ele obtenha uma formação técnica e humana que não envergonhe o
título. Há muito doutor que chegou a ministro e não tinha nenhuma vocação para
qualquer dos títulos. Lá está, não andou em nenhum curso vocacional do doutor
Crato.
GAVB
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