Tão inesperado quanto comovedor!
As televisões portuguesas bombardeiam-nos a todo a hora, há
um mês, com imagens sem interesse jornalístico sobre a presença da seleção
portuguesa em França. Os jogos, nós vemos com gosto, apesar das exibições serem
bem piores que o resultado; os comentários dos jogadores e do treinador também,
mas aqueles diretos tontos, a toda a hora do dia, para ouvir a comunidade
portuguesa em França falar de coisa nenhuma não fazem qualquer sentido a não ser gastar o tempo de antena, em que ninguém trabalhou para preencher de outra
maneira.
No entanto, há uma flor que desabrocha desta imensa
preguiça e mediocridade: o genuíno orgulho daquela gente em ser português.
Aquele frenesim, aquela emoção sem razão, aquelas horas e horas à espera de um
aceno do Ronaldo e companhia podem parecer bacocos ou simplesmente tontos, mas
traduzem um incrível sentimento de orgulho em ser português.
Um orgulho que
nunca detetamos em Portugal (onde o normal é dizer mal de nós), um orgulho que
a situação financeira, económica e social do país não explicam, um orgulho que
o desporto (muito menos o futebol) autoriza, um orgulho que não se baseia nos
muitos anos passados em Portugal e que as saudades fazem perceber, pois grande parte
daqueles emigrantes pertence a uma segunda, terceira ou mesmo quarta geração de
portugueses e, portanto, sem grande contacto com o
território nacional.
Todavia… todavia aprenderam a amar a terra dos pais ou dos
avós, têm gosto em se afirmar portugueses, embora tenham nascido em França,
apesar de todas as humilhações que o país e os pais sofreram ao longo de
décadas, num país, que tem tanto de acolhedor quanto de chauvinista.
Não deixa de ser uma lição de portugalidade para todos,
emigrantes ou não, aquilo que pressentimos nos despropositados diretos de
Marcoussis.
Não é apenas emoção, não é apenas o futebol nem o Ronaldo, é um
sentimento profundo que fez com que uma rapariga de vinte e poucos anos (Sónia Carneiro),
nascida em França mas descendente de portugueses, jornalista do jornal “20
Minutes” (onde um colega escreveu “Este Portugal é nojento, mas está nos
quartos-de-final”) saísse publicamente em defesa de Portugal, com uma
veemência e contundência tal que o colega foi obrigado a engolir toda aquela
nojeira que tinha vomitado.
Ainda que seja entre estranhos, é sempre bom sentir que os
nossos têm orgulho em pertencer à família e que não há fronteiras nem língua ou
tempo que destrua esse orgulho em ser português. Uma das melhores heranças do
Portugal antigo.
Gavb
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