Eis a única promessa
que estou seguro que cumprirei, apesar de não fazer nenhum gosto nisso. Por
muito minimalistas ou cuidadosos que sejamos, haverá sempre alguma coisa que
não cumpriremos, das diversas resoluções, umas mais secretas que outras, que,
por estas horas, tomamos.
E como isso se tornou
banal! Tão banal que trocámos de palavras para não parecer tão mal e passámos a
falar de “desejos”. Ora, ninguém se sente responsável por desejos, cujo esforço
de concretização fica a cargo dos outros e das circunstâncias. Uma promessa
compromete-nos de uma forma quase absoluta e traz consigo a sombra do fracasso
ou da desonra.
Se quiséssemos ser
sérios falávamos de objetivos, que já não têm aquela carga dramática, mas
também não são meros desejos de
ocasião. Hoje é dia deles, como ontem foi dia de “balanços” e há uma semana dia
de ser bom. O perigo das convenções é brincar irresponsavelmente às coisas
sérias, que assim passam anos sem serem abordadas com seriedade.
Claro que é bom ter
desejos grandiosos e filantrópicos; claro que é importante traçar objetivos
ambiciosos e realistas para um período temporal da nossa vida; claro que é
salutar ter a coragem de nos comprometermos com uma ou outra ação relevante e
desenvolvermos verdadeiros esforços para a cumprirmos. Normalmente as promessas
têm esta “chatice” de poderem ser verificadas pelos outros, mas o crescimento
pessoal precisa de compromisso.
Passando à frente a
parte dos desejos (cuidado com o que desejas, pois alguns podem cumprir-se!),
sempre achei muito interessante delinearmos objetivos para a nossa vida e
definirmos um período de tempo para a sua consecução. Claro que o dia 1 de
janeiro é o pior dia do ano para tal exercício, pois, quando chegar a altura de
os levarmos a sério, vamos sorrir para a nossa consciência e dizer: “Aquilo foi tudo brincadeirinha de 1 de
janeiro!”, “Champagne a mais, entusiasmo do momento!”.
Como daqui a dois/três
dias regressaremos à garrafa de água e o almoço já não terá sobremesa, será a
altura indicada para estruturar os nossos objetivos do ano. Devem ser poucos,
realistas e duros. As categoriais são as do costume: objetivos relacionais,
afetivos, laborais, económicos, de saúde. Se não exagerarmos na carga,
arranjaremos trabalho para muitos meses. Uns conseguiremos cumprir, outros não.
Quando daqui a 365 dias chegar o dia oficial dos balanços, já temos matéria
para refletir. E nesse caso, estou certo, não arquivaremos as conclusões nos
baús da memória.
Ter objetivos, ter foco
é uma das maneiras mais salutares de viver e crescer. Se quisermos aumentar o
dramatismo ou demonstrar compromisso, sempre podemos transformar um ou outro em
promessa. Claro que podemos falhar, mas só seremos uns falhados se não
tentarmos. Como diria Samuel Beckett: “Ever tried. Ever failed. No matter. Try
again. Fail again. Fail better.”
Gabriel
Vilas Boas
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