Além dos quadros de paisagens, os outros
dois grupos de trabalhos mais relevantes da obra do pintor francês Paul Cézanne
são as naturezas-mortas e os retratos.
Das obras principais que Cézanne pintou na
última década do século XIX faz parte uma série de cinco quadros sobre os
jogadores de cartas.
A primeira versão, onde Cézanne colocou cinco personagens
é, desde 2011, o quadro mais caro do mundo, altura em que foi comprado pela
família real do Catar ao grego Gerge Embiricos pela astronómica soma de 250
milhões de dólares. A segunda versão, que está no Metropolitan Museum of Art,
em Nova Iorque, já só tem quatro jogadores, enquanto as três últimas versões do
tema, apenas incluem dois jogadores.
Vários estudos a grafite, aguarelas e
óleos sugerem que Cézanne nunca terá pedido aos seus modelos para pousarem
juntos para uma afinação final da cena, tendo optado por retratar cada uma das
figuras per si, para mais tarde as
reunir num único quadro.
Apesar da disposição dos jogadores ter uma
aparência muito estática, qualquer um das versões transmite uma forte tensão
interior devido à calma concentrada que emana das figuras. Mesmo na
representação de uma situação vulgar, Cézanne tinha a capacidade de transmitir
a ideia de uma pintura que isola o que é visto do que é momentâneo.
No Metropolitan Museum of Art encontramos
um pequeno óleo (65x85cm) que Cézanne pintou entre 1890 e 1892 sobre a temática
dos jogadores de cartas. Nesta composição pictórica, o pintor francês inclui
quatro figuras e nela dominam os tons de azul que conferem à cena qualquer
coisa de distante. Os jogadores estão imóveis, com os olhos dirigidos para
baixo. A introdução do laranja contrastante sublinha a concentração dos
jogadores. Este tom é retomado pelo cortinado cujo drapeado é continuado no
blusão do jogador sentado à direita.
Entre 1893 e 1896 Cézanne pintou outro
pequeno óleo (47,5x57cm) sobre o mesmo tema, o qual também atingiu enorme
reconhecimento. A tela pertence à coleção do Museu d´Orsay.
No quadro, percebemos que Cézanne liberta
o assunto do seu conteúdo narrativo e concentra-se apenas na transposição
compositiva da representação de pessoas no espaço.
O quadro foi construído segundo leis
rigorosas de cor e forma que levam a esquecer o aspeto quotidiano da cena
representada. A tela foi pintada em tons de terra, castanhos e cinzentos. A
visão da escuridão através da janela indica que a hora já vai avançada. Os
reflexos da luz sobre o vestuário dos jogadores, a mesa e a garrafa espelham a
iluminação artificial.
A posição dos jogadores de cartas está
subordinada à composição do todo. As diagonais dos seus braços, em ângulo reto,
cruzam-se sobre a mesa e o prolongamento das beiras laterais da mesa tem o seu
ponto de fuga exatamente no topo da garrafa de vinho.
Gabriel Vilas Boas
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