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terça-feira, 5 de janeiro de 2016

JÚLIO CÉSAR, de Shakespeare


«Júlio César» é a primeira das tragédias que Shakespeare escreveu inspiradas na história de Roma, baseando-se, sobretudo, numa tradução de “Vidas Paralelas” de Plutarco.
No entanto, embora toda a obra gire em torno do assassínio de Júlio César, pode considerar-se que é Bruto o verdadeiro protagonista pela profundidade com que é feita o estudo do seu carácter.

Bruto, o grande amigo de César, é aquele que o trai mais profundamente. Shakespeare coloca na sua obra todos os elementos clássicos da tragédia: indícios, afunilamento da ação, concurso negativo de determinadas circunstâncias, mas a verdade é que a morte de César não ocorre por “culpa do destino”, mas por ação objetiva dos homens que arquitetam um plano para matar Júlio César, dado que não podiam suportar todo o seu poder e o amor que o povo lhe tinha. No fundo não conseguiam «encaixar» a sua superioridade.
Bruto é o elemento central desta tragédia, pois não tinha motivos para matar César nem o trair, até porque era sincera a amizade entre ambos. Bruto acabou por ser traído pela sua vaidade, pelo cerco de adulação que Cássio lhe monta. O trágico, que ao mesmo tempo funciona como uma espécie de justiça poética, é que Bruto acaba por ser ultrapassado pelo hábil Marco António, que lhe deu a beber o mesmo veneno que César tomara: a ingenuidade perante os amigos.

Através de Bruto, o Judas de Roma, Shakespeare talvez queira lembrar-nos que a vaidade é a maior tragédia humana.    
Trata-se também de uma das obras do grande poeta em que o seu estilo melhor mantém um tom constante de nobre naturalidade, sem os contrastes habituais.

Na véspera dos idos de Março, Júlio César entra triunfante em Roma (neste ponto Shakespeare comete mais um dos seus famosos erros históricos) e no Senado é-lhe oferecida três vezes uma coroa, que ele recusa três vezes.
Cássio convence Marco Bruto a entrar numa conspiração que tem por finalidade derrubar Júlio César. Bruto, que tem por César uma viva amizade, acredita que é preciso sacrificar essa amizade em benefício do bem público de Roma e desse modo libertar a capital do império da crescente tirania com que César governa.
Um adivinho previne César contra os perigos que o ameaçam e até a sua mulher, Calpúrnia, o convence a permanecer em casa em vez de se deslocar ao Senado, mas um dos conjurados (Décio) consegue levá-lo e, então, antes de entrar no Capitólio, os traidores abeiram-se de Júlio César, sob o pretexto de lhe apresentar uma petição, a qual é negada, e, um após outro, cravam os seus punhais no peito de César, que morre depois de reconhecer Bruto entre os seus assassinos.
Segue-se uma confusão geral e Marco António, com hábeis palavras, consegue que Bruto lhe permita prestar honras fúnebres ao cadáver. Bruto sobe à tribuna e explica ao povo os motivos do assassínio; contudo, depois, Marco António, num habilíssimo discurso faz com que o povo se revolta contra Cássio, Bruto e restantes conjurados de tal maneira que estes têm de fugir de Roma.  
Constituídos em triunvirato, Marcos António e Otávio, marcham à frente de um poderoso exército ao encontro dos republicanos que se haviam refugiado nas províncias gregas. Trava-se a batalha na província de Filipos. Aí as forças de Cássio são derrotadas e este suicida-se. Bruto consegue uma ligeira vantagem sobre Otávio, mas é vencido por uma vez e também pede ao seu escravo que segure a espada enquanto ele se precipita sobre a sua lâmina. António o Otávio honram as suas virtudes, ordenando funerais dignos de um grande soldado. 

Gabriel Vilas Boas

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