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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A CIDADE-MÁRTIR OU BUDAPESTE, de Vieira da Silva



Maria Helena Vieira da Silva foi uma das mais importantes pintoras portuguesas do século XX, tendo dado um forte contributo para o relacionamento do meio artístico português com a arte internacional.
Tendo ido estudar para França no dealbar da sua juventude, Vieira da Silva casou-se com o pintor húngaro de origem judaica Arpad Szenes e naturalizou-se francesa.

Artisticamente, a pintora nascida em Lisboa, no dia de Santo António de 1908, pertence à segunda geração da denominada Escola de Paris e os historiadores da arte hesitam entre classificá-la como pintora portuguesa ou francesa. Apesar de se ter tornado francesa e enquanto tal ter atingido projeção internacional, os trabalhos realizados por Vieira da Silva têm uma matriz portuguesa declarada. As temáticas e os elementos formais e expressivos evocam muitas vezes Portugal e a sua cidade natal: os azulejos, a calçada, a luz.
A Segunda Grande Guerra Mundial obriga o casal a exilar-se no Brasil. Quando regressou, Vieira da Silva viveu três décadas de consolidação e consagração da sua obra no panorama artístico europeu.
Na década de cinquenta, a par da exploração da construção multidimensional dos espaços fechados, a pintora trata de temas do exterior.


Em 1957, Vieira da Silva pintou um óleo sobre tela de proporções razoáveis (114x137cm) a que deu o nome de A Cidade-mártir ou Budapeste.
O título desta pintura refere-se ao levantamento popular e espontâneo contra o governo comunista-estalinista húngaro, que ocorreu no final de 1956. Iniciada como uma manifestação pacífica de estudantes, que exigiam o fim da ocupação soviética, a revolta terminou com a invasão de Budapeste pelo Exército Vermelho, de que resultou dezenas de milhares de mortes, presos e refugiados.
Obra de um período conceptual e formal, esta pintura dramática denota um intenso domínio das estruturas, caracterizando-se pela solidez e densidade dramática com que o referente é tratado graficamente.
A composição é marcada por uma grelha geral que é construída através das linhas que desenham a estrutura e que se diluem em sentido ascendente, em manchas cromáticas que se adensam na zona superior do quadro, e pela qualidade da luz definida através das manchas pontuais de cores contrastantes e do forte contraste claro-escuro.

Gabriel Vilas Boas

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