Maria Helena Vieira da Silva foi uma das
mais importantes pintoras portuguesas do século XX, tendo dado um forte
contributo para o relacionamento do meio artístico português com a arte
internacional.
Tendo ido estudar para França no dealbar
da sua juventude, Vieira da Silva casou-se com o pintor húngaro de origem
judaica Arpad Szenes e naturalizou-se francesa.
Artisticamente, a pintora nascida em
Lisboa, no dia de Santo António de 1908, pertence à segunda geração da
denominada Escola de Paris e os historiadores da arte hesitam entre classificá-la
como pintora portuguesa ou francesa. Apesar de se ter tornado francesa e enquanto tal ter atingido projeção internacional, os trabalhos realizados por
Vieira da Silva têm uma matriz portuguesa declarada. As temáticas e os
elementos formais e expressivos evocam muitas vezes Portugal e a sua cidade
natal: os azulejos, a calçada, a luz.
A Segunda Grande Guerra Mundial obriga o
casal a exilar-se no Brasil. Quando regressou, Vieira da Silva viveu três
décadas de consolidação e consagração da sua obra no panorama artístico
europeu.
Na década de cinquenta, a par da
exploração da construção multidimensional dos espaços fechados, a pintora trata
de temas do exterior.
Em 1957, Vieira da Silva pintou um óleo
sobre tela de proporções razoáveis (114x137cm) a que deu o nome de A
Cidade-mártir ou Budapeste.
O título desta pintura refere-se ao levantamento
popular e espontâneo contra o governo comunista-estalinista húngaro, que
ocorreu no final de 1956. Iniciada como uma manifestação pacífica de
estudantes, que exigiam o fim da ocupação soviética, a revolta terminou com a
invasão de Budapeste pelo Exército Vermelho, de que resultou dezenas de
milhares de mortes, presos e refugiados.
Obra de um período conceptual e formal,
esta pintura dramática denota um intenso domínio das estruturas,
caracterizando-se pela solidez e densidade dramática com que o referente é tratado graficamente.
A composição é marcada por uma grelha
geral que é construída através das linhas que desenham a estrutura e que se
diluem em sentido ascendente, em manchas cromáticas que se adensam na zona
superior do quadro, e pela qualidade da luz definida através das manchas
pontuais de cores contrastantes e do forte contraste claro-escuro.
Gabriel Vilas Boas
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