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sábado, 23 de janeiro de 2016

FEIOS, PORCOS E MAUS, de Ettore Scola


A semana que agora finda foi pródiga em acontecimentos funestos para a sociedade e arte europeias. Em Portugal, desapareceu o político Almeida Santos e a arquitetura despediu-se de Nuno Teotónio Pereira; em França, chora-se a partida do criador de “Sexta-Feira ou a Vida Selvagem", Michel Tournier, e Itália disse adeus ao cineasta Ettore Scola. Estamos em janeiro e a História imita a natureza podando da vida velhos ramos que outrora iluminaram o pomar com saborosos frutos.
Hoje, destaco Ettore Scola, um dos mais renomados realizadores italianos do século XX. Scola filmou durante quatro décadas, realizando obras emblemáticas do cinema europeu como Feios Porcos e Maus; Um Dia Inesquecível; Tão Amigos que Nós Éramos.
O homem que cursou Direito e passou pelo jornalismo, encontrou no cinema o campo perfeito para expressar o seu talento. Primeiro como argumentista, depois como notável realizador.

Uma das temáticas prediletas dos seus filmes foi a vida em Itália no pós II Guerra Mundial, não tivesse ele vivido no tempo de Mussolini e na Itália destruída e humilhada das décadas de 50 e 60.
“Tão Amigos que Nós Éramos", filme de 1974 dedicado ao amigo Vittorio de Sica, espelha a sociedade italiana do pós-guerra: desencanto, frustração, um mão cheia de vidas falhadas por causa de decisões erradas por falta de coragem.



Em “Um Da Inesquecível”, Scola junta a fina flor dos atores italianos da sua geração: Marcelo Mastroianni e Sofia Loren. O realizador transalpino consegue da dupla mais glamourosa do cinema italiano uma atuação pungente, tocante e enternecedora, que valeu a Mastroianni uma indicação para Óscar. O filme, que se tornou uma película inesquecível na filmologia de Scola, tem como pano de fundo a visita de Hitler a Itália a 6 de maio de 1938 e revela como os anti-fascistas estavam isolados numa Itália cega e sem valores.

“Feios, Porcos e Maus” (1976) é o filme mais conhecido de Ettore Scola. Realizado há precisamente quarenta anos, a comédia do cineasta italiano obteve grande êxito em Portugal e um pouco por toda a europa. Nino Manfredini interpreta o papel de um ex-operário que recebeu um milhão de liras de indemnização, após ter perdido um olho num acidente de trabalho.
Apesar de viver numa barraca dos subúrbios de Roma, que compartilhava com dez filhos, a esposa e alguns parentes, o protagonista esconde o dinheiro que recebeu do seguro e recusa gastá-lo na melhoria da miserável vida que levava. Movido pelo egoísmo e pela avareza, obriga os outros (mais de vinte pessoas) a continuar a comer, a viver e a fazer amor na mesma divisão da barraca.
A situação complica-se quando o nóvel milionário de espírito pobre leva para casa uma prostituta com quem começa a gastar o seu potinho de ouro em presentes.
Sátira trágico-cómica, sarcástico e pleno de elementos neorrealistas, “Feios, Porcos e Maus” põe em destaque as condições degradantes a que pode chegar a vida humana, num retrato ímpar do egoísmo, miséria, traição, violência, promiscuidade e mentira.
Um dos melhores filmes italianos de sempre. 
Gabriel Vilas Boas

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