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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A LIBERTAÇÃO DE AUSCHWITZ-BIRKENAU, 1945


«Foi graças ao maior milagre que eu sobrevivi. Em todas as casernas havia uma pequena cabina à frente, com uma caixa na qual forneciam pão. Mas a dobradiça da caixa estava solta e eu escondi-me nessa caixa virada ao contrário. Alguém veio fazer uma busca e até lhe deu um pontapé, mas felizmente eu estava tão magro que ela cedeu. Foi assim que sobrevivi. Quando eles se foram embora, os alemães, eu quis voltar para as casernas, mas os polacos e os ucranianos não me deixaram entrar. Então, escondi-me no meio da pilha de cadáveres, porque na semana anterior os crematórios não funcionavam e os corpos foram-se acumulando. E eu escondi-me no meio daqueles cadáveres porque receava que eles voltassem. Passava ali a noite; durante o dia deambulava pelo campo. Em 27 de janeiro fui um dos primeiros, Birhkenau foi um dos primeiros campos a ser libertado» - Bart Stern


O húngaro Bart Stern foi um dos sobreviventes encontrados pelo Exército Vermelho Soviético quando entrou no complexo do campo de extermínio nazi em Auschwitz-Birkenau, no sul da Polónia, a 27 de janeiro de 1945. Nessa altura, depois de ter assistido ao assassínio de mais de um milhão de pessoas, o complexo albergava cerca de sete mil prisioneiros, a maioria dos quais demasiado velhos ou doentes para se juntarem aos outros sessenta mil que tinham sido obrigados a encetar uma marcha de evacuação assassina, ordenada pelos nazis 15 dias antes.


Entre outros prisioneiros libertados nesse frio dia de janeiro encontravam-se Otto Frank (1889- 1980), pai da jovem diarista holandesa e vítima do Holocausto Anne Frank e o químico italiano Primo Levi (1919-1987), demasiado doente com escarlatina para ser evacuado. Depois de regressar a Itália, Levi passou uma grande parte do tempo a escrever sobre a sua experiência nos campos de concentração, dando origem ao extraordinário livro Se Isto É Um Homem (1947). Todavia, nem ele se sentiu qualificado para dar um testemunho completo. Mais tarde, numa entrevista, afirmou: «Nós, os que sobrevivemos aos campos de concentração, não somos as verdadeiras testemunhas. Somos aqueles que, por prevaricação, habilidade ou sorte, nunca tocámos no fundo. Os que tocaram, e os que viram o rosto da górgona, não voltaram ou voltaram sem palavras.»

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