Como seria de esperar
(e também com toda a legitimidade) o governo socialista derrubou a política
educativa do último governo, terminando com os exames do 4.º e 6.º anos, a
Matemática e Português; suspendendo a implementação da Prova de Inglês no 9.º
ano; mantendo os exames do 9.º ano a Português e Matemática; não mexendo nos
exames do Secundário (pudera, já que aí a controvérsia seria bem maior) e,
novidade, introduzindo Provas de Aferição no 2.º, 5.º e 8.º anos, cujas áreas a
aferir serão rotativas. Para já, começam com Matemática e Português! Que falta
de imaginação e… de coragem!
Alguns professores
lamentam a 15.ª alteração no sistema de avaliação em dezasseis anos (também podiam
ter lamentado a 14.ª, todavia eu não lembro…), mas a maioria não define
claramente o que pensa sobre o sistema de avaliação em Portugal, preferindo
criticar ou apoiar, porque gosta mais ou gosta menos, porque são políticas de
esquerda ou de direita.
E logo aqui começa a minha
discordância. A Educação de um povo não pode estar refém de ideologias
políticas, socais ou culturais. A política educativa e o sistema de avaliação
devem ser pensados em função de um desenvolvimento educacional
abrangente das crianças e jovens. A Educação não pode ser ideológica. Os
governos deviam fazer gala disso e não sub-repticiamente tentar impor a sua
mundividência.
Se pensam que a direita
era muito rigorosa, porque examinava tudo e todos, obrigando os alunos a
submeter-se a exames de Português e Matemática no 4.º, 6.º e 9.º anos, estão
redondamente enganados. Nenhum aluno baixava o seu nível interno, mesmo que
obtivesse nos exames um resultado inferior em 20% ao seu habitual. Isto é, um
aluno de nível três tinha a sua aprovação garantida desde que obtivesse um
resultado igual ou superior a 20%. Que dificuldade! Que exigência! Por outro
lado, só mudaria a sua nota para nível quatro (no máximo) se obtivesse uma nota
superior a 90%. Quantos conseguiram tal proeza? Pois… Mas há mais: um aluno de
nível quatro jamais alcaçaria o nível cinco, mesmo que tirasse 100% no exame e
jamais reprovaria, mesmo que tirasse 0%. E depois temos que assistir à conversa
para embalar crianças de sempre: exigência para aqui, contra o facilitismo para
acolá.
A isto acresce que a
dita exigência não abrangia 80% das disciplinas do curriculum. Os professores e
os alunos passavam nove anos nas escolas portuguesas a aprender História,
Geografia, Inglês, Francês, Educação Visual, Físico-Química e nem uma linha tinham
de “provar” sobre o que aprenderam. No entanto, a direita portuguesa era (é)
duríssima e competentíssima a avaliar. Rigor, exigência, blá,blá, blá…
E o que contrapõe a
esquerda? Não vamos examinar, vamos aferir! E o que querem começar por aferir?
Aquilo que nunca foi aferido, para ver em que passo se encontram os alunos?
Não, nada disso! Querem aferir aquilo que já fora examinado e voltará a ser.
Quanto às Expressões, à História, à Geografia, ao Francês e ao Inglês, não há
pressa para saber o que sabem os alunos portugueses?
Quem só quer aferir
para corrigir possíveis desequilíbrios não introduz aferições à pressa, só para
deixar a sua marca desde início. E se quer aferir, afere tudo. Com tempo, com
justiça e em atenção aos diversos tipos de alunos que as escolas públicas
portuguesas têm. Sim, porque as escolas públicas portuguesas têm alunos do
curriculum normal, alunos com curriculum específico individual, alunos com
adequações curriculares. Não estão interessados nesses?
Quanto a mim, entre
exames e provas de aferição, prefiro as provas de aferição. Já que as provas
contam para muito pouco e para poucos, o melhor é deixar de fingir que contam
para alguma coisa. Todavia, querendo aferir que se afira tudo e todos, sem
pressas, estruturando o sistema de avaliação a longo prazo e colocando o foco
na qualidade daquilo que se ensina. Senão haverá professores com trinta e tal
anos de carreira que nunca verão o seu trabalho aferido por ninguém. Entretanto
produzir-se-ão novos programas, novas metas, novas metodologias para as suas
disciplinas tendo por base um qualquer parecer. A Educação não é para parecer,
é para ser.
Gabriel Vilas Boas
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