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sábado, 2 de janeiro de 2016

PIROPO: FORA DE MODA E FORA DA LEI


Os últimos dias de 2015 trouxeram aos portugueses uma lei que fez renascer os debates de café ou de redes sociais: a criminalização do piropo. O piropo, ou seja, aquela “coisa” divertida, hilariante, nojenta que tanto elogia como humilha a mulher passou a ser crime, com pena de prisão até três anos, ou seja, passível de ser substituído por coima.
Na prática, esta lei funcionará como efeito dissuasor de um costume boçal de galanteio que a cultura portuguesa tardava em perder. Quando aplicada, apenas dará satisfação aos advogados e ao tribunal que cobrarão emolumentos e os honorários respectivos.

Pode ser caricato estarmos a criminalizar o piropo, mas mais incompreensível é ele se ter tornado uma tradição. Por regra, o piropo é algo de errado, pois, na maioria das vezes, é grosseiro, violento, humilhante, vingativo, frustrado. Ocasionalmente, pode ser bem-humorado e inofensivo, mas isso não apaga as muitas outras em que acossa a mulher na sua dignidade.
É verdade que a mentalidade não se muda por decreto, mas há leis que ajudam a mudar algumas mentes, sobretudo quando trazem um valor monetário a pagar pela ousadia da sua transgressão.

Antes de estar fora da lei, o piropo já tinha saído de moda. Tornara-se em algo foleiro e reles, que um espírito lúcido e bem formado rejeita sem hesitação. Aliás, a evolução social, cultural e mental das sociedades modernas vai pondo a nu alguns comportamentos e pensamento rasteirinhos que precisamos de ir eliminando paulatinamente, já que não é possível eliminar de uma penada.

O piropo é só a face mais visível de uma mentalidade sexista que deixamos florescer entre nós e que convém erradicar. O nosso dia-a-dia está cheio de comentários sexistas com os quais homens e mulheres pretendem alfinetar o sexo oposto. 

E ao contrário do piropo, quase todos eles não têm gracinha nenhuma, mas deixam a sua marquinha irritante de cada vez que são usados. Se é irritante e aviltante para muitas mulheres estar sempre a ouvir comentários como “Deves estar naqueles dias do mês”, “Isto não é para meninas”, “Não sejas mandona”, “Não sejas tão dramática”, “Se fizesses um esforço podias ficar tão gira”, não é menos incomodativo e exasperante ouvir tiradas do género: “Os homens são todos iguais”, “És homem. Nunca vais entender.”, “Os homens são crianças grandes”, “Os homens são todos uns porcos”, “Vai viver sozinho, vai, em seis meses estás morto”, “Não sejas maricas”, “Não és capaz de pensar em duas coisas ao mesmo tempo”.
Como se pode facilmente constatar os comentários sexistas não são um exclusivo dos homens e, se formos justos, alguns dos mais fortes são sobre eles ditos por elas.
Claro que não precisamos de nos tornar umas flores de estufa, mas convinha lembrar que a mentalidade sexista não é um exclusivo dos homens e a criminalização do piropo é só o começo da mudança de mentalidade que se pretende.

Gabriel Vilas Boas    

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