A dez dias de completar 94 ano de vida, o
arquiteto Nuno Teotónio Pereira faleceu hoje em Lisboa. Arquiteto excecional,
Teotónio Pereira gostava de dizer que a arquitetura era a mais importante e
bela das artes. Durante mais de cinco décadas de projetos, Nuno Teotónio
Pereira pensou a arquitetura para todos, ricos e pobres, pois gostava de
associar à arte que amava uma dimensão ética.
Talentoso, começou desde de cedo desenhar
projetos cujo valor era reconhecido. Venceu o prestigiado Prémio Valmor, por
três vezes, a última das quais com o projeto da Igreja do Sagrado Coração de
Jesus (1962-1975), que desenhou em parceria com os arquitetos Nuno Portas e
Pedro Vieira de Almeida.
Nesse projeto singular, temos de destacar
desde logo como marco do tempo e de inovação a organicidade da sua implantação,
que a obriga a desmultiplicar-se em incisivos elementos volumétricos
hierarquizados.
Neste projeto, Teotónio Pereira consegue o
regresso a uma certa monumentalidade silenciosa que se manifesta na
expressividade dos materiais e que tem no pátio “vazio”, o primeiro momento de
“respiração” e um lugar de encontro.
A nave da igreja é o espaço onde se
concentra a densidade do projeto porque é a razão de ser do edifício. Nela
cruzam-se duas dimensões: uma horizontal, que reflete o peso da assembleia dos
fiéis; e outra vertical, comunicando com o absoluto. Entre elas sente-se a
força do espaço enquanto valor material, saturado, envolvendo todos aqueles que
participam nas celebrações em fortes contrastes de luz e sombra. Contra o ecrã
cru dos blocos de betão coloca-se o celebrante.
Há propositadamente uma luz clara que
dramatiza o plano do altar. A assembleia inclina-se por entre as galerias e o
chão.
A funcionalidade desta igreja não sai
prejudicada do projeto de Teotónio Pereira e parceiros, mas este acrescenta-lhe outros valores que a “humanizam” e que se jogam no recurso dos
materiais (betão e madeiras) e da estrutura, assumidos na sua significação mais
justa.
Projeto vencedor de um concurso, em 1962, a
Igreja do Sagrado Coração de Jesus corresponde ao aprofundamento das teses programáticas
e estéticas do Movimento de Renovação da Arte Religiosa (1953) que em Portugal
pensou ligar os conteúdos das artes e da arquitetura ao espaço litúrgico
católico.
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