Os
santos populares são das festas mais portuguesas e mais genuínas que vivemos.
Oriundas
do feliz casamento entre a religião e a tradição, souberam manter o espírito de
folia ao mesmo tempo que se foram reinventando, de maneira a renovar a festa na
transição das gerações.
Acontecem
no verão, quando o tempo e a vontade nos expulsa do comodismo caseiro e nos
traz para a rua. São elas que nos devolvem ao contacto com as nossas raízes,
com os vizinhos que nem cumprimentávamos, com o prazer do convívio sem hora
marcada.
Quase
ninguém aparece porque “tem de ser” e vemos famílias, novos e velhos, pessoas
de todos os estratos sociais a sorrir, a brincar, a comer a sua sardinha assada
no pão ou no prato, de pé ou numa mesa improvisada no meio da rua.
São
as festas populares que reúnem novamente as gentes da cidade, do bairro ou da
rua, à volta do prazer de estar com o outro e da pequena brincadeira. Mantêm
viva o orgulho da pertença a um grupo ou associação, nas marchas populares ou
nas cantigas, fazem as crianças saltar as fogueiras e recordam a beleza da vida
na magia do fogo-de-artifício.
Os
santos populares são festas de comunidade, onde todos estão convidados, mesmos
os desconhecidos. Rapidamente o convívio vence a timidez dos mais recatados e
instala a doce descontração dos momentos alegres até que os corpos dêem sinal
de cansaço.
Apesar
de toda a brincadeira e descontração, há tempo e inspiração para coisas mais artísticas.
O povo anseia pelo desfile bairrista das marchas, onde a coreografia namora a
música, esperando o consentimento das palmas. Os mais sonhadores derramam
poesia nos manjericos à espera dos sorrisos das almas delicadas. Entretanto a
banda toca para mais um passo de dança enquanto os pequenos nos surpreendem com
outra marretada e o calor da noite pede mais um copo e dois dedos de conversa.
Como
todas as coisas boas, a festa popular e santa também tem o seu fim. A sorte é
que caminhamos (ou cambaleamos) para casa com a barriga cheia de alegria e
folia, onde nos espera uma cama sem relógio para acolher um corpo cansado de
satisfação.
Foi
bonita a festa, pá!
Gabriel
Vilas Boas
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