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sábado, 13 de junho de 2015

ÁLVARO CUNHAL, O ROSTO DO COMUNISMO PORTUGUÊS


Passam catorze anos que as ruas de Lisboa se encheram para se despedir de uma das figuras mais míticas da história política portuguesa do século XX: Álvaro Cunhal.
A par de Oliveira Salazar, Cunhal marcou do ponto de vista político, social e ideológico Portugal, durante o século passado. Ele foi o rosto do comunismo português, antes e depois da revolução de abril de 1974, que devolveu a liberdade de expressão e a democracia ao nosso país.

A admiração dos portugueses por Álvaro Cunhal ultrapassa, e muito, aquela que temos pelo comunismo.
Quando Cunhal largou a política ativa, em 1992, deixando a liderança do PCP para Carlos Carvalhas, eu ainda não tinha direito a voto. E a ideia que me passavam sobre o líder comunista era que ele representava os “maus”; a sua hipotética e académica subida ao poder, em Portugal, representaria uma espécie de regresso à idade das trevas, onde a ditadura substituiria a democracia por muitos anos. Cunhal era o anjo negro da jovem democracia portuguesa e os comunistas “comiam” criancinhas ao pequeno-almoço.
Rapidamente procurei documentar-me, formar a minha opinião, com base em factos, e perceber por que Cunhal era tão odiado e… amado! Cheguei a algumas conclusões que ainda hoje continuam válidas para mim.

A maior relevância política de Cunhal foi feita nos tempos da ditadura salazarista, quando a sua coragem intelectual e física se fez sentir ao afirmara a ideologia comunista no seio de uma ditadura fascista. Cunhal enfrentou Salazar e tornou-se a luz que alumiava todos aqueles que procuravam devolver a liberdade de expressão a Portugal. Não se vergou e, destemido, organizou, na clandestinidade, o Partido Comunista Português, ao mesmo tempo que dava esperança a todos aqueles que não se identificavam com a ditadura de Oliveira Salazar.
Foi nessa altura que nasceu o mito Cunhal. Durante essas décadas de escuridão democrática, Álvaro Cunhal granjeou grande parte da admiração que muitos portugueses com mais de quarenta anos ainda hoje mantêm por ele. Essa admiração terminou para muitos, quando, após o 25 de abril de 1974, Cunhal nunca desmentiu claramente a ideia que Mário Soares um dia soube sintetizar: o PCP queria implementar, à força, em Portugal, o comunismo made in URSS, ou seja, levar o país para uma ditadura de esquerda, onde a democracia seria letra morta. Cunhal estava capaz de sacrificar a liberdade e a democracia em prole do comunismo.

Acho que Cunhal estava certo quando disse que o fim do comunismo desequilibrava perigosamente a correlação de forças entre as diversas potências mundiais, mas errado, ao não reconhecer o falhanço do modelo comunista. Cunhal era um homem culto e inteligente e por isso não lhe louvo a coerência ideológica. O modelo comunista tinha colapsado e Cunhal nunca aceitou isso. Ele quis impor o comunismo aos seus compatriotas, mesmo perante a recusa destes, mesmo face a todos os equívocos da ideologia de Marx. Isso não é coerência, isso é teimosia.
Hoje, Cunhal é quase um fóssil histórico-político e é pena. Os mais jovens terão dificuldade em situar corretamente a relevância social, política e histórica do nome mais importante do comunismo português do século XX. Por mim, gosto de recordar o que cada um dá de melhor ao seu país e por isso prefiro lembrar Álvaro Cunhal enquanto grande opositor do ditador Salazar, aquele que manteve viva uma luzinha de esperança num país livre e democrata.

Gabriel Vilas Boas 

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