Ainda que na clandestinidade, ainda que só para Lisboa e de maneira experimental, nascia, a 17 de junho de 1984, a mais importante rádio da democracia portuguesa: A TSF – Rádio Jornal.
Emídio Rangel, Fernando Alves Guerra, Davide Borges davam corpo a uma aventura extraordinária que marcou o jornalismo português do século XX e transformou definitivamente a rádio em Portugal.
Parecia uma «maluquice» destinada ao fracasso completo, aquela ideia de ter uma rádio completamente centrada na informação, com noticiários de meia em meia hora, apostando tudo na informação constantemente atualizada, no direto, na reportagem, no debate plural e permanente. Contudo, essa maluquice vingou e ajudou a transformar a sociedade portuguesa por completo.
Afinal havia notícias suficientes que sustentassem o projeto; e, mais importante, havia público para um tipo de rádio que procurasse informar antes de entreter. Isso foi possível porque a TSF teve na sua génese um conjunto de jornalistas notável, que fizeram (muitos ainda fazem) jornalismo com paixão, competência e ousadia.
A TSF inovou na rádio e criou o apetite para as televisões privadas, que mais tarde desenvolveriam canais televisivos totalmente voltados para a informação.
Os jornalistas da TSF criaram um conceito de rádio e souberam desenvolvê-lo. Os debates políticos semanais entre representantes das diversas forças políticas começaram na TSF, que alargou o modelo ao futebol. Foi na TSF que Marcelo Rebelo de Sousa começou por dar as suas famosas notas da semana aos diversos agentes políticos, económicos e sociais.
Depois havia (ainda há, felizmente) os SINAIS, do Fernando Alves Guerra, pequenos apontamentos de dois/três minutos que pensam o momento com a sabedoria dos antigos e o sonho dos jovens; que inquietam e questionam.
Questão de honra para a Rádio de Rangel e David Borges era o rigor, a seriedade, a rapidez, o furo jornalístico. De tal modo que uma notícia TSF era quase inquestionável. Os seus jornalistas pareciam chegar sempre primeiro e mais fundo em cada acontecimento. Como o slogan dizia “por uma boa história, por uma boa notícia, vamos ao fim da rua, vamos ao fim do mundo”. E de facto, a TSF ia/vai onde os outros não vão.
Trinta anos depois, a TSF parece mais burguesa, mais igual às outras rádios, mas foram as outras que se aproximaram dela e não o contrário. A TSF soube antecipar o futuro e talvez por isso faz parte da nossa memória coletiva.
Gabriel Vilas Boas
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