O trabalho infantil é
um problema de país pobre causado pela hipocrisia e oportunismo dos países
ricos.
Com a globalização, o
trabalho infantil saiu da agenda mediática, porque as agências de comunicação e
de imagem das grandes marcas fizeram um enorme trabalho de cosmética que varreu
o incómodo tema para os programas televisivos de menor audiência.
O problema do
trabalho infantil deve ser visto a uma escala global e só terá solução se
houver políticas concertadas e coerentes que o ataquem. Não vale a pena dizer
que não há crianças a trabalhar em Portugal, quando continuamos a comprar bolas
de futebol ou jeans feitos por crianças asiáticas, coagidas por uma situação
económica débil que não permite escolha.
Um país pobre, onde
falta a água potável, ruas alcatroadas, saneamento básico, instrução primária,
cuidados de saúde básicos, não tem autoridade moral nem força política para
exigir aos pais dessas crianças que não ponham os seus filhos pequenos a
trabalhar, em caso de necessidade extrema. Não há muitos pais que coloquem os
seus filhos a trabalhar duramente, antes de terem idade para isso, de ânimo
leve.
Para além da
destruturação económica do mundo, o problema do trabalho infantil reside no
facto dos “intermediários” ficarem com uma parte pornográfica daquilo que
pagamos por alguns produtos à venda nas melhores lojas dos países
desenvolvidos.
As grandes marcas
mundiais já não sujam diretamente as mãos. Há sempre uma empresa, no meio, que compra
sapatos, roupa ou artigos manufaturados exóticos, que trata de “negociar” (na
verdade, coagir) diretamente com os cidadãos de vários países subdesenvolvidos
em África, na América do Sul ou na Ásia.
Não há uma solução
milagrosa, única e rápida para este problema. No entanto, é possível fazermos
um pouco mais do que aquilo que fazemos. A começar pela comunicação social, que
pode e deve desmascarar as empresas que se aproveitam direta e indiretamente da
mão-de-obra infantil. Depois, a opinião pública tem de exercer a sua pressão
moral sobre os donos dessas grandes empresas/marcas, para que deixem o
comodismo à Pilatos e ajam!
Agir é cortar nas
comissões dos intermediários e pagar mais aos produtores; agir é oferecer
trabalho digno aos pais destas crianças; agir é denunciar os regimes políticos
corruptos que pedem dinheiro às grandes empresas e lhes oferecem, em troca, o
trabalho quase escravo das crianças do seu país; agir é propor pagar em
alimentos, medicamentos, vacinas, escolas, professores, junto daqueles que
trabalham dez/doze horas diárias e ainda passam fome. Agir é…
O trabalho infantil é
muito mais do que um problema de país pobre, é uma nódoa negra na consciência
da Humanidade.
Gabriel Vilas Boas
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