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segunda-feira, 15 de junho de 2015

NUNO MELO




Ao fim de nove anos a lutar contra uma doença hepática, o ator Nuno Melo deixou-nos para sempre. Tinha apenas cinquenta e cinco anos, mas uma vida inteira consagrada ao mundo da representação, que começou há mais de trinta anos, quando o seu talento despontava no Teatro de Animação de Setúbal.
Portugal só o passou a conhecer em 1984, quando a telenovela “Chuva na Areia" nos deu a conhecer o Caniço, personagem meio delinquente que ia para cama com homens e mulheres, por dinheiro. Nuno Melo não gostava lá muito de ser recordado por essa interpretação, mas a força da televisão e o facto de ser a primeira grande aparição pública do ator acabou por ligar para sempre o ator à personagem.



Nuno Melo é aquilo que se pode chamar um ator global, pois fez teatro, cinema, televisão e até publicidade. Sem nunca atingir os píncaros da fama, a sua presença era sempre notada e os seus trabalhos apreciados.    
Muitas vezes o ator albicastrense vestiu a pele de vilão, mas muitos colegas detetavam-lhe uma doçura que o grande público não via nas suas personagens.
Nuno Melo sabia fazer rir e chorar, criava personagens que guardámos na nossa memória coletiva, transmitindo-lhes um pouco da sua garra de viver.


A sua carreira teve vários pontos altos. No teatro, destaco as atuações em peças de Shakespeare, de Luísa Costa Gomes, Botho Strauss. Representou “Frei Luís de Sousa”, contracenou com Ana Bustorff em “1755, O Grande Terramoto”.
Na televisão, repartiu o seu talento entre telenovelas e séries, tanto cómicas como dramáticas. “Alentejo Sem Lei”, “Equador”, “Casino Royal”, “Camilo, O Filho” são alguns exemplos.
Devido às suas particulares características enquanto ator, Nuno Melo foi também requisitado por vários realizadores, tendo participado em filmes como “Tráfico”, “Crime do Padre Amaro”, “A Divina Comédia”, mas foi com “O Barão”, de Edgar Pêra, que atingiu o auge. A Sociedade Portuguesa de Autores distinguiu-o assim como a SIC, com o Globo de Ouro, na categoria da representação.


Nuno Melo era um ator e um homem vivo, incapaz de ficar parado há espera que a vida viesse ao seu encontro. Ele ia ao encontro das oportunidades e no caminho acabava por viver histórias rocambolescas. Ficou ligado a uma história de rapto, no Brasil, enquanto filmava “Senhora do Destino” e a uma publicidade a uma marca de sopas instantâneas, que virou anedota nacional, ainda que os alentejanos não tenham gostado muito.
Na última terça-feira despediu-se de nós “um ator vital, com uma energia fabulosa. Um homem com mau feitio, mas bom fundo. Deixou marcas nos papeis que fazia!” Obrigado, Nuno Melo.
Gabriel Vilas Boas

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