A beleza desta catedral ensombra duplamente a Cidade
Velha de Burgos que a circunda: toma o céuu de assalto com a sua fachada de duas
torres e seduz pela filigrana e distinção dos seus coruchéus góticos.
No tempo do rei D. Fernando III e do bispo Maurício,
no lugar de uma igreja românica, foi lançada a primeira pedra para a construção
de um novo templo. Nessa altura Burgos já deixara de ser, na prática, a capital
de Castela, mas mantinha a dignidade de diocese e representava um ponto
importante de passagem para os peregrinos de Santiago de Compostela. Era também
a metrópole castelhana do comércio de lã, muito apreciada na Flandres e em
Inglaterra. Esse comércio fez de Burgos uma cidade próspera e o novo templo
devia testemunhar essa riqueza.
O Cadeiral em nogueira de Felipe Vilgarny
No entanto, até à conclusão da obra, iniciada em estilo
gótico francês, passaram três séculos. Durante esses longos 300 anos, Burgos
atraiu construtores de toda a europa que conseguiram imprimir uma unidade
estilística ao conjunto.
As duas torres em forma de lanceta, que ultrapassam os
80 metros de altura, ainda hoje merecem respeito e são símbolo da perfeição
formal do gótico, com os seus pináculos rendilhados e a ornamentação de
folhagem estilizada. Para muitos visitantes, esta é a mais bela vista de toda a
cidade, à qual, postados diante da fachada da Igreja, na praça de Santa Maria,
tudo estamos dispostos a perdoar: os subúrbios devorados pelos gigantes
industriais, blocos habitacionais construídos sem lógica nem estética e um
clima horrível.
A catedral costuma receber os seus visitantes com um
quente odor a círios e incenso. Segue-se uma viagem de exploração de um mundo
peculiar no coração da cidade castelhana. Um mundo onde pairamos imponderáveis
e no qual os olhares balançam entre o céu e a terra. Contemplamos a abóbada
ricamente decorada, a rosácea gótica e o magnífico altar-mor com cenas da vida
de Maria.
De vez em quando, o olhar não desliza em direção ao céu, mas,
num movimento rasteiro, descobre encastoado, no transepto, o monumento em honra
de El Cid, oriundo da região de Burgos. O herói nacional de Espanha entrou na
História pelos seus feitos contra os Mouros, embora também tenha feito de
agente duplo e temporariamente tenha estado também ao serviço do rei Mouro de
Saragoça. Porém, com a libertação de Valência do domínio muçulmano, não só
adquiriu a sua própria área de soberania como fez jus ao seu segundo cognome, “El
Campeador”.
A escada Dourada do arquiteto Diego Siloé
Por onde quer que se olhe na catedral de Burgos,
desdobra-se em cada recanto, uma fascinante profusão de ornamentos e em todo o
lado há brilho e esplendor. Escultores e arquitetos de renome deixaram a sua
assinatura numa das maiores catedrais de Espanha: Diego de Siloé e a sua escada
dourada; Felipe Vigarny e o precioso cadeiral em nogueira para os 103 membros
do cabido; Simon de Colónia com a capela do Condestável, uma capela em forma
octogonal, do gótico tardio, com uma bela abóbada estrelada.
Entre as muitas capelas não é possível ignorar a
capela de Cristo, onde a imagem do crucificado perturba pelo seu realismo. Ao
que consta, os artistas incorporaram no trabalho cabelo humano e pele de
búfalo.
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