Daqui a alguns dias já
será possível encontrar nas livrarias o mais recente livro de Manuel Alegre – Bairro
Ocidental – e é lá que podemos ler este maravilhoso poema sobre a
revolta do poeta português sobre os anos de submissão económica e social que
ainda vivemos.
Com o poema RESGATE,
Manuel Alegre reafirma o eixo fundamental da sua poesia: a intervenção social e
política através da poesia.
Em «Resgate» podemos
ler toda a revolta do português que se sente humilhado pela intervenção da
troika e pela submissão dos governantes do seu país, incapazes de compreender o
seu povo. Depois de há cinquenta anos insuflar esperança através dos seus
poemas, agora, Manuel Alegre defende a dignidade do seu povo, num poema
belíssimo que passo a transcrever e que vale a pena ler com muita atenção.
RESGATE
Há qualquer
coisa aqui que não gostam
Da terra
das pessoas ou talvez
Deles próprios
Cortam isto
e aquilo e sobretudo
Cortam em
nós
Culpados sem
sabermos de quê
Transformados
em número estatísticas
Défices de
vida e de sonho
Dívida pública
dívida
De alma
Há qualquer
coisa em nós de que não gostam
Talvez o
riso esse
Desperdício.
Trazem
palavras de outra língua
E quando
falam a boca não tem lábios
Trazem sermões
e regras e dias sem futuro
Nós
pecadores do Sul nos confessamos
Amamos a
terra o vinho o sol o mar
Amamos o
amor e não pedimos desculpa.
Por isso
podem cortar
Punir
Tirar a
música às vogais
Recrutar quem
os sirva
Não podem
cortar o verão
Nem o azul
que mora aqui
Não podem
cortar quem somos!
Manuel Alegre
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