Quando
um povo está triste, deprimido, pobre, desorientado, a liberdade e a democracia
parecem valores desbotados. Percebo perfeitamente a frustração, até porque
também a sinto.
Ao fim
de quatro décadas de democracia e liberdade de escolha, percebemos, finalmente,
que não existe verdadeira liberdade onde existe desigualdade, injustiça,
pobreza.
Clamamos
contra a hipocrisia da classe política, mas fomos nós que a elegemos; acusamos
os parceiros europeus de falta de solidariedade, quando entraram milhões e
milhões de euros em Portugal nos últimos quarenta anos; consumimos os nossos
dias em acusações estéreis e sucessivos diagnósticos e estudos, no entanto recusamos
qualquer mudança substancial, na economia, na sociedade, na educação, nas
mentalidades, porque somos uns medricas, porque achamos sempre mais confortável
ficar um bocadinho mais pobres, mais dependentes, do que arriscar uma mudança.
A mudança acontece na mesma, mas são os outros que no-la impõem.
Obviamente
impuseram aquilo que mais lhes interessou. Degradaram as condições de trabalho,
destruíram lentamente o sistema de saúde e educação público e universal,
fizeram-nos desacreditar da democracia, de tal modo que muitos acham que com
ela ou sem ela é quase a mesma coisa. A ação foi deles, mas a culpa foi nossa. E
aqui chegados, não me interessa mais voltar a falar de culpa e de culpados. Interessa-me
saber como saímos disto.
Em primeiro
lugar com gente nova. Nova de idade e nova na função de governar, dirigir.
Gente que não tenha feito carreira partidária nem pretenda ficar muito tempo em
cargos públicos. Depois precisamos de uma mudança de mentalidade individual e coletiva.
Antes de reclamar sobre aquilo que o país não faz por nós, afirmar aquilo que
fazemos pelo país. É possível boicotar a inação, a desigualdade, a injustiça
dum sistema que sempre contou com os nossos piores defeitos de carater.
Melhorar
a produtividade, recusar viver de esquemas, não ter medo da mudança social e
política só porque quem chega não é da nossa cor ou é inexperiente. Toda a
gente já foi inexperiente e, muitas vezes, aqueles de quem não gostamos servem
melhor o interesse público que os nossos amigos.
Todos os
povos têm, de tempos a tempos, uma oportunidade para se reerguer. A geração que
nasceu com o 25 de Abril (a minha geração) já esbanjou duas vidas. Resta-lhe
uma para fazer alguma coisa de útil.
Gabriel Vilas Boas
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