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quinta-feira, 23 de abril de 2015

DA ARTE, DA PINTURA, DE HENRIQUE POUSÃO (1859-1884)


Henrique Pousão nasceu em Vila Viçosa, a 1 de janeiro de 1859.Filho de magistrado, desde cedo manifestou talento e gosto pelas artes. Encorajado pelo pai, dos seus dedos hábeis ainda infantis vão surgindo retratos, paisagens, frutos, grinaldas de flores.
Em 1872,muda-se para o Porto, onde frequenta o ateliê de António José da Costa e prepara o ingresso na Academia Portuense das Belas-Artes, que o distingue com louvor em Desenho Histórico, Arquitetura Civil e Anatomia Artística. Termina o último ano de Desenho Histórico com 18 valores, obtendo igualmente altas classificações nas restantes áreas da sua formação, entre as quais, Pintura Histórica.

No exame final de Pintura Histórica pinta Dafnis e Cloé, que a Academia Portuense classifica com 18 valores. Esta é uma história de amor mítica entre dois pastores, que havia sido popularizada na época pela ópera de Offenbach (1860).Obra do naturalismo, pintada com graça e desenvoltura, em paleta clara e translúcida, foi um sucesso…É tão apreciado este quadro que é mesmo considerado digno de pertencer àquela instituição. Em 1880,vence o concurso que o haveria de levar como pensionário(bolseiro) a Paris e é admitido nos ateliês de Alexandre Cabanel e Adolphe Yvon.

 
Dafnis e Cloé,1879, óleo sobre tela, Museu Nacional de Soares dos Reis

Em 1881,é admitido na Escola de Belas Artes de Paris mas contrai uma bronquite aguda. Aconselhado pelos médicos a não passar o Inverno em Paris, viaja até Roma, onde se instala no Instituto de Santo António dos Portugueses.
Em 1882,vai para Capri, onde continua a desenvolver o seu trabalho.

As Casas Brancas de Capri, 1882, MNSR

Capri sempre atraiu gente de bom gosto e com particular apetência para as artes, como foi o caso do inglês John Singer Sargent e de Pierre-Auguste Renoir, que aí trabalharam, embevecidos por certo e perfeitamente esmagados pela beleza daquele lugar. Apesar de doente, Pousão realizou “pequenos estudos de paisagem”, mas busca sobretudo a arquitetura dos lugares, onde monta o seu cavalete e pinta pormenores de arquitetura sob o efeito daquela luz mediterrânica inconfundível, que corta e recorta as formas representadas, intensifica-as, e adensa a cor. ”O fragmento é instância obsessiva em Pousão”, que ele busca num olhar marcado talvez já pela fotografia. Visivelmente influenciado por Corot, destaco aqui sobretudo a luz com que inunda a tela e que acaricia o mar, as casas e a natureza algo agreste mas onde tudo se encontra em perfeita harmonia. Os cactos protegem de olhares indiscretos, em mestria artística incomparável. Ao fundo, a linha do mar de um azul quase cobalto, suaviza o olhar do observador.
Esta obra confirma o amor do artista pela arquitetura branca da ilha. No jornal Actualidade espelhou-se a admiração unânime dos críticos, pois esta obra foi recebida com grande entusiasmo no Porto, em Maio de 1883:
“A paisagem afoga-se num vivo sol de Setembro, que espadana do alto, escaldando as paredes brancas das construções alumiando os cactos que ressaltam, espessos, volumosos, mordidos de espinhos, dourando o terreno argiloso, enchendo tudo de um rumor de luz e vida, tão próprio dos dias em que o Verão faz as suas despedidas…”
Grande nome da primeira geração de pintores naturalistas portugueses, Pousão deixou-se marcar pelos lugares da sua breve vida, numa clara evolução, chegando como ninguém a esboços abstratos em composições sintetizadas como esta que vos deixo hoje, As Casas Brancas de Capri. Os jogos de incidência de luz e de sombra eram muito ao seu gosto e foram representados até à exaustão. Integrada na paisagem, surgem modelos infantis, como bem se observa nesta pintura, sendo que esta é outra temática recorrente na sua obra.
Podemos marcar encontro com Henrique Pousão no Museu Nacional Soares dos Reis, onde este magnífico pintor está tão bem representado e viajar com ele pelo Porto, por Paris, por Roma, por Capri, por Pompeia, através das suas obras extraordinárias, mais de duzentas, em simbiose de desenho, de pintura, de atelier, de cavalete. Definitivamente, Pousão ia a caminho da modernidade.
Volta para Portugal, já muito doente, e hospeda-se em casa do primo Manuel Matroco, onde, impossibilitado de sair de casa, pinta flores do campo. São as suas últimas obras.

Rosa Maria Alves da Fonseca



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