Henrique
Pousão nasceu em Vila Viçosa, a 1 de janeiro de 1859.Filho de magistrado, desde
cedo manifestou talento e gosto pelas artes. Encorajado pelo pai, dos seus
dedos hábeis ainda infantis vão surgindo retratos, paisagens, frutos, grinaldas
de flores.
Em
1872,muda-se para o Porto, onde frequenta o ateliê de António José da Costa e
prepara o ingresso na Academia Portuense das Belas-Artes, que o distingue com
louvor em Desenho Histórico, Arquitetura Civil e Anatomia Artística. Termina o
último ano de Desenho Histórico com 18 valores, obtendo igualmente altas
classificações nas restantes áreas da sua formação, entre as quais, Pintura
Histórica.
No
exame final de Pintura Histórica pinta Dafnis
e Cloé, que a Academia Portuense classifica com 18 valores. Esta é uma
história de amor mítica entre dois pastores, que havia sido popularizada na
época pela ópera de Offenbach (1860).Obra do naturalismo, pintada com graça e
desenvoltura, em paleta clara e translúcida, foi um sucesso…É tão apreciado
este quadro que é mesmo considerado digno de pertencer àquela instituição. Em
1880,vence o concurso que o haveria de levar como pensionário(bolseiro) a Paris
e é admitido nos ateliês de Alexandre Cabanel e Adolphe Yvon.
Dafnis e Cloé,1879, óleo sobre tela, Museu Nacional de Soares dos Reis
Em
1881,é admitido na Escola de Belas Artes de Paris mas contrai uma bronquite
aguda. Aconselhado pelos médicos a não passar o Inverno em Paris, viaja até
Roma, onde se instala no Instituto de Santo António dos Portugueses.
Em
1882,vai para Capri, onde continua a desenvolver o seu trabalho.
As
Casas Brancas de Capri, 1882, MNSR
Capri sempre atraiu gente de bom gosto e com particular apetência para as artes, como foi o caso do inglês John Singer Sargent e de Pierre-Auguste Renoir, que aí trabalharam, embevecidos por certo e perfeitamente esmagados pela beleza daquele lugar. Apesar de doente, Pousão realizou “pequenos estudos de paisagem”, mas busca sobretudo a arquitetura dos lugares, onde monta o seu cavalete e pinta pormenores de arquitetura sob o efeito daquela luz mediterrânica inconfundível, que corta e recorta as formas representadas, intensifica-as, e adensa a cor. ”O fragmento é instância obsessiva em Pousão”, que ele busca num olhar marcado talvez já pela fotografia. Visivelmente influenciado por Corot, destaco aqui sobretudo a luz com que inunda a tela e que acaricia o mar, as casas e a natureza algo agreste mas onde tudo se encontra em perfeita harmonia. Os cactos protegem de olhares indiscretos, em mestria artística incomparável. Ao fundo, a linha do mar de um azul quase cobalto, suaviza o olhar do observador.
Esta
obra confirma o amor do artista pela arquitetura branca da ilha. No jornal Actualidade espelhou-se a admiração
unânime dos críticos, pois esta obra foi recebida com grande entusiasmo no
Porto, em Maio de 1883:
“A paisagem afoga-se num vivo sol de
Setembro, que espadana do alto, escaldando as paredes brancas das construções
alumiando os cactos que ressaltam, espessos, volumosos, mordidos de espinhos,
dourando o terreno argiloso, enchendo tudo de um rumor de luz e vida, tão
próprio dos dias em que o Verão faz as suas despedidas…”
Grande
nome da primeira geração de pintores naturalistas portugueses, Pousão deixou-se
marcar pelos lugares da sua breve vida, numa clara evolução, chegando como
ninguém a esboços abstratos em composições sintetizadas como esta que vos deixo
hoje, As Casas Brancas de Capri. Os
jogos de incidência de luz e de sombra eram muito ao seu gosto e foram
representados até à exaustão. Integrada na paisagem, surgem modelos infantis,
como bem se observa nesta pintura, sendo que esta é outra temática recorrente
na sua obra.
Podemos
marcar encontro com Henrique Pousão no Museu Nacional Soares dos Reis, onde
este magnífico pintor está tão bem representado e viajar com ele pelo Porto,
por Paris, por Roma, por Capri, por Pompeia, através das suas obras
extraordinárias, mais de duzentas, em simbiose de desenho, de pintura, de
atelier, de cavalete. Definitivamente, Pousão ia a caminho da modernidade.
Volta
para Portugal, já muito doente, e hospeda-se em casa do primo Manuel Matroco,
onde, impossibilitado de sair de casa, pinta flores do campo. São as suas
últimas obras.
Rosa
Maria Alves da Fonseca
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