Com
a chegada da primavera, começa a época dos cruzeiros no mediterrâneo,
prometendo fantásticas viagens por Veneza, Roma, Atenas, Barcelona, Istambul ou
pelas ilhas gregas. No mesmo mar milhares de migrantes continuam a tentar
chegar à europa em pequenos botes que muitas vezes se transformam em urnas
coletivas, que depositam os deserdados de África no fundo do mar glamouroso.
É
um problema muito grave, dado que só no ano passado morreram mais de 3400 migrantes
por afogamento e em 2015 a contagem já vai em impressionantes 900 pessoas.
Durante
esta madrugada um navio com 700 imigrantes ilegais, saídos da Líbia com destino
a Itália, naufragou no mar Mediterrâneo, depois de se afastar apenas 27 milhas
da costa líbia. A esta hora contam-se os mortos e os sobreviventes, num
processo longo e doloroso.
Que
resposta deram os governos europeus a este problema? Choraram lágrimas de
crocodilo, mandaram flores no funeral e resolveram reduzir os meios de busca e
salvamento. A atitude daqueles que nos dias de hoje governam a europa é
desumana e hipócrita, mas não me surpreende. O que me espanta é a indiferença
da comunidade internacional, especialmente a europeia, que não exige de quem a
governa medidas firmes e eficazes para que todos os anos não afundem titanics
de cidadãos africanos em botes que lhes prometem a morte.
O
Super Mário que a tecnocracia europeia pôs em Bruxelas não se lembrará daquilo
que os seus olhos viram em Lampedusa há uns anos? É importante e urgente que a
europa tome medidas sobre o problema dos migrantes no mediterrâneo. Quantas
pessoas tem capacidade para acolher de maneira condigna? Há que ter coragem
para definir esse número e depois agir em conformidade, acompanhando a montante
e a jusante o problema.
O
problema está em África, donde estas pessoas saem desesperadas em busca duma
vida melhor. Se a europa não tem capacidade de acolhimento, então deve prover ajuda
humanitária a essa gente nos locais de origem, envolvendo ou não as autoridades
locais. Na ONU gostam muito de discutir intervenções militares para
salvaguardar a paz; em Bruxelas adoram fazer planos e projetos de pormenor para
salvar bancos e fundos das bebedeiras de jogo em que se meteram. Será que
podiam arranjar um tempinho para prover a um problema das pessoas que fogem do
seu país, quase a nado, porque a fome as ameaça?
Não
há soluções perfeitas nem milagrosas, bem sei! Todavia é possível ter uma
política coerente, determinada e humana. É isso que faz a Suíça ou o Canadá.
Entretanto,
os paquetes intensificam o tráfego no mediterrâneo. Talvez algum ministro
holandês ou austríaco cruze o olhar com um bote cheio de gente a caminho da
liberdade e do pão ou da morte! Talvez se lembre que são gente como ele, talvez
essa imagem permaneça na sua memória quando regressar a casa ou a Bruxelas,
talvez…
Tenho muito receio que a Humanidade morra um
dia destes afogada no mediterrâneo e que uns sujeitos que outrora se diziam
humanos avistem tudo do varandim dum dos cruzeiros da Royal Caribbean.
Gabriel Vilas Boas
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