Hoje regresso à
explicação de algumas expressões curiosas da língua portuguesa. Escolhi a
expressão “Meter o Bedelho” pelo seu uso frequente.
Há quem apenas
conheça o uso da palavra “bedelho” pelo uso que faz desta expressão, por isso
importa começar por explicar o seu significado. Trata-se de um tranca que,
ao contrário do ferrolho, é colocada em posição horizontal, entre os batentes
da porta ou entre os batentes e a ombreira. Em sentido
figurado, nos jogos de cartas, é sinónimo de pequeno trunfo.
Ora, duas das
hipóteses comummente apresentadas para justificar o emprego da locução, que
remonta ao século XIX, baseiam-se nos sentidos mencionados.
Como se sabe, meter o bedelho significa intrometer-se nas conversas ou negócio alheios. Se tivermos em
conta que bedelho é, no fundo, um ferrolho, metê-lo num negócio ou numa
conversa é como correr a tranca que pode mudar o curso dos acontecimentos. Por
outro lado, se considerarmos bedelho um trunfo, facilmente compreendemos que
valer-se dele ajuda à vitória; por norma é esse o objetivo de quem se mete –
colaborar para a rápida solução de um problema.
Todavia, como “de
boas intenções está o diabo cheio”, muitas vezes quem mete o bedelho é pouco
oportuno e só causa mais confusão. O escritor Pinheiro Chagas utiliza esta
expressão em “História Alegre de Portugal”: As
cortes, chamadas por D. Henrique para decidir a questão, estavam já tão pouco
costumadas a meter o seu bedelho nessas questões, que disseram ao rei que
decidisse como quisesse, apesar de berrar muito contra isso um português às
direitas, procurador de Lisboa e que se chamava Febo Moniz.
Em italiano diz-se meter o
zampino in unna faccenda; em
espanhol diz-se meter el hocico; em
francês é mêlerson mot ou fourrer
son nez.
Sintam-se à vontade
para meter o vosso bedelho nos comentários, mas de preferência façam-no em
português.
Gabriel Vilas Boas
é mesmo bom aprender!
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