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terça-feira, 21 de abril de 2015

METER O BEDELHO



Hoje regresso à explicação de algumas expressões curiosas da língua portuguesa. Escolhi a expressão “Meter o Bedelho” pelo seu uso frequente.
Há quem apenas conheça o uso da palavra “bedelho” pelo uso que faz desta expressão, por isso importa começar por explicar o seu significado. Trata-se de um tranca que, ao contrário do ferrolho, é colocada em posição horizontal, entre os batentes da porta ou entre os batentes e a ombreira. Em sentido figurado, nos jogos de cartas, é sinónimo de pequeno trunfo.
Ora, duas das hipóteses comummente apresentadas para justificar o emprego da locução, que remonta ao século XIX, baseiam-se nos sentidos mencionados.

Como se sabe, meter o bedelho significa intrometer-se nas conversas ou negócio alheios. Se tivermos em conta que bedelho é, no fundo, um ferrolho, metê-lo num negócio ou numa conversa é como correr a tranca que pode mudar o curso dos acontecimentos. Por outro lado, se considerarmos bedelho um trunfo, facilmente compreendemos que valer-se dele ajuda à vitória; por norma é esse o objetivo de quem se mete – colaborar para a rápida solução de um problema.
Todavia, como “de boas intenções está o diabo cheio”, muitas vezes quem mete o bedelho é pouco oportuno e só causa mais confusão. O escritor Pinheiro Chagas utiliza esta expressão em “História Alegre de Portugal”: As cortes, chamadas por D. Henrique para decidir a questão, estavam já tão pouco costumadas a meter o seu bedelho nessas questões, que disseram ao rei que decidisse como quisesse, apesar de berrar muito contra isso um português às direitas, procurador de Lisboa e que se chamava Febo Moniz.
Em italiano diz-se meter o zampino in unna faccenda;  em espanhol diz-se meter el hocico; em francês é mêlerson mot ou fourrer son nez.
Sintam-se à vontade para meter o vosso bedelho nos comentários, mas de preferência façam-no em português.
Gabriel Vilas Boas


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