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quarta-feira, 22 de abril de 2015

ENTRE O SAMBA E O FADO



Passam hoje 515 que Pedro Álvares «achou» o Brasil. De então para cá os dois povos fortaleceram laços a todos os níveis, cresceram de modo diverso e construíram uma relação que tem tanto de emotiva quanto de imperfeita.
Há um problema psicológico que ainda não está cabalmente ultrapassado. Os brasileiros detestam a ideia de terem sido descobertos pelos portugueses. Em toda a europa logo havia de lhes calhar um pai pequeno e pobre, cheio de defeitos, que envergonha qualquer filho do tamanho dum… Brasil.
Magoados no ego, os portugueses retribuem o remoque acusando o brasileiro de sofrer da síndrome de Peter Pan, achando o brasileiro demasiado informal, mais virado para o divertimento do que para o trabalho, pouco profissional. O brasileiro acha o «pai» ultrapassado, inoperante, pouco ambicioso…


Na verdade, a distância e o preconceito fizeram com que se conheçam muito mal. No entanto, e ainda que não o admitam, gostam muito um do outro e lá no fundo admiram-se!
Há quarenta anos que os portugueses vêem as telenovelas brasileiras com uma paixão de brasileiros, há décadas que acompanham a seleção canarinha e torcem por ela como se fosse a sua seleção, o Brasil continua a ser um destino de eleição para os portugueses quando viajam para o estrangeiro. Sentem-se em casa, apesar da violência que existe no Brasil, das parcas oportunidades de negócios que obtêm em solo brasileiro ou das anedotas de que são alvo entre cariocas ou paulistas.
Os brasileiros também disfarçam mal o seu fraquinho por Portugal. Portugal é muito mais que a porta de entrada na europa. Por exemplo, a universidade de Coimbra tem dois mil alunos brasileiros (10% do total da universidade), o que torna a secular universidade portuguesa o maior campus universitário brasileiro fora do Brasil.  


A elite cultural brasileira admira genuinamente os escritores portugueses e dá-lhes um lugar de destaque entre os seus curricula. São os brasileiros que melhor reconhecem a posição estratégica de Portugal na europa. Os maiores vultos da música e das artes brasileiras fazem questão de se apresentarem em Portugal, mesmo que isso não lhes traga um grande retorno económico.
Sem o notarem, Brasil e Portugal admiram aquilo que ridicularizam no outro. Os portugueses gostavam de saberem criar felicidade em cada gesto, de terem aquela alegria natural tão genuinamente brasileira enquanto alguns brasileiros gostavam de ter aquela pose séria e austera que define os europeus.
Enquanto a relação Portugal/Brasil não saía do divã de Freud o mundo evoluiu e aquilo que poderia ser uma grande parceria mundial, com evidentes ganhos para os dois povos, tornou-se apenas num projeto de grande aliança.


Cabe a esta e à próxima geração escrever novas e prósperas páginas duma história comum que não pode viver apenas de Pedro Álvares Cabral, futebol ou turismo. Há um intercâmbio empresarial por fazer, troca de Know-how, facilitação de investimentos em áreas como a ciência, medicina, investigação.

E há ainda a língua que nos une até ao âmago! Temos de ter orgulho dela. E a melhor maneira de mostrar esse orgulho é usá-la em eventos internacionais. Não ter medo que nos achem incultos ou atrasados. Sim, dominamos o inglês, o francês, o alemão, mas preferimos falar a nossa língua como os outros gostam de falar a deles. Sem vergonha nem complexos de ser quem somos!

Gabriel Vilas Boas

2 comentários:

  1. Fantástico o texto! Verdade que desde muito cedo aprendemos que o Brasil foi descoberto por Pedro Alvares Cabral, tivemos Dom Pedro I ou Dom Pedro IV, alcunhado o Libertador, foi o fundador e primeiro soberano do Império do Brasil, lembro-me que em minha infância ter conhecido muitos portugueses que lá estavam e fizeram a sua vida, sobretudo como grandes comerciantes de lojas.
    Fato é que sempre tive uma grande admiração pelos portugueses por serem pessoas trabalhadoras, cumpridoras de suas obrigações em terreno brasileiro. Conheci o fado já bem adulto quando Mariza esteve no Brasil, apesar de não me lembrar o ano, mas lembro que esteve no "Fantástico" programa da Rede Globo. desde esta época aprendi a apreciar o fado.
    Claro que comparar fado com samba, não tem nada a ver, apesar de nunca ter me ligado ao samba, mas samba é todo alegria, enquanto que o fado é a música que fala de sentimentos mais profundos, na realidade faz muito mais minha cabeça, sempre fui uma pessoas afastado daquilo que expressa alegria demasiada.

    Quanto a relação entre brasileiros e portugueses, sei que deixamos muito a desejar, sobretudo aqueles que se calhar não souberam se portar muito bem, mas podemos relacionar isso como alguns filhos que são rebeldes, outros nem tanto, verdade é que como um pai, portugueses dão exemplos bons aos filhos, que nem sempre cumprem a risca, claro que não são todos rebeldes, como dedos de uma mão, nem todos são iguais, isso para dizer que estou a quase 11 anos em Portugal e me adequei muito bem a tudo isso aqui, sem dizer que nestes anos todos ainda não voltei ao Brasil.

    Tenho um relacionamento muito bom com os portugueses, não de pai e filho, mas de amigos, apesar de não ser uma pessoa que gosta de convívios, mas tenho cá grandes amigos.

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