Na semana anterior
trouxe-vos uma panorâmica geral dos Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica, de
que faz parte o Museu de Arte Antiga, onde podemos apreciar alguns dos mais
belos exemplos da pintura renascentista flamenga dos séculos XV e XVI. Tendo em
conta o momento pascal que atravessamos decidi escolher uma das obras que o Museu
de Arte Antiga de Bruxelas acolhe com muito orgulho: o Cristo na Cruz, de Bosch
Hyeronimus van eken
BOSCH (1450-1516) é um pintor e desenhador flamengo cuja obra foi catalogada
como «estranha» e «mística». Pertencia a uma família de artistas e a sua
pintura caracterizava-se pela extraordinária fantasia que se encontra tanto nas
composições com uma atmosfera de pesadelo como em outras de fina ironia.
Cristo na Cruz, óleo sobre
madeira (75X61X1,5), de 1490
Esta obra representa
um momento da paixão de Jesus Cristo, quando este foi crucificado no monte
Gólgota, segundo as Sagradas Escrituras. À sua esquerda está a Virgem Maria com
São João Evangelista. À sua direita encontra-se o doador da obra, que está
ajoelhado em atitude de oração, acompanhado por S. Pedro. Este último faz
alusão ao nome de batismo do doador. No chão estão espalhados os ossos e a
caveira de Adão, sobre os quais se ergue a cruz em sinal de Redenção pelo
pecado original.
Um corvo, à esquerda,
assinala a morte de Cristo. Ao fundo, a paisagem está descrita de forma
pormenorizada e representa uma cidade flamenga, tal como era característico da
pintura do momento, que representava através das paisagens religiosas a própria
vida da Flandres.
A pintura pertence ao
período médio de Hyeronymus Bosch, quando a sua obra ainda apresentava alguns
convencionalismos. Contudo, a tábua afasta-se da simetria e do estatismo,
estando repleta de tensão, o que antecipa o tipo de pintura que passará a fazer
durante o século XVI.
Para terminar chamo a
atenção para dois pormenores relevantes no quadro de Bosch
A
caveira de Adão era frequente surgir nas representações flamengas da
Crucificação. Segundo a tradição popular, Jesus foi cravado em cima da caveira
de Adão, redimindo assim o pecado original.
São
Pedro aponta para o doador, apresentando-o ao Senhor. Nas pinturas flamengas, o
santo patronímico acompanhava sempre o doador.
Gabriel Vilas Boas
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