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quarta-feira, 8 de abril de 2015

GIL EANES E OS BOJADORES DA VIDA



Gil Eanes foi um dos mais marcantes navegadores portugueses do século XV. Para sempre ficará associado à passagem do Cabo Bojador em 1434. A dobragem deste cabo, a sul das ilhas Canárias, era importantíssimo, quer a nível “físico” quer a nível psicológico.
Aquele que ficou conhecido como o cabo do medo enterrou dezenas de embarcações e de vidas e obrigou o infante D. Henrique a destacar 15 expedições até que o navegador algarvio o conseguiu dobrar.
E por que era assim tão difícil vencer este cabo africano? A culpa era do deserto do Saara que, ao longo dos anos, em virtude das suas cíclicas tempestades de areia, assoreou uma parte do Oceano Atlântico, a alguns quilómetros do referido cabo, fazendo encalhar todas as embarcações que por lá passavam.


 Como não conseguiam explicar o facto de, em pleno alto mar, não obterem uma profundidade superior a dois metros, os navegadores portugueses justificavam o seu insucesso com razões sobrenaturais. Até que Gil Eanes empreendeu uma manobra que hoje nos parece simples e óbvia: decidiu manobrar para oeste afastando-se da costa africana. Após um dia inteiro de navegação longe da costa, deparou com uma baía plácida de ventos amenos, e então dobrou para sudeste e logo percebeu que havia deixado o Cabo Bojador para trás.


Gil Eanes tinha ganho o seu lugar na História e Portugal avançava na conquista do desconhecido, explorando a Costa de África, a caminho da Índia, deitando um olho ao Brasil.
O Bojador era um grande obstáculo que se resolveu com uma medida simples. Depois de vencido é fácil catalogá-lo como trauma psicológico, mas eu vejo-o como mais uma lição da História ao Homem. Mesmo os grandes obstáculos são ultrapassáveis e não necessariamente por super-heróis. Não nos resignarmos, atuarmos com racionalidade e confiança, buscarmos também as respostas simples são atitudes e métodos que nunca devemos abandonar.


A nossa vida é feita de pequenos bojadores, fins de mundo anunciados, que logo se tornam ridículos perante o aparecimento de novos fantasmas. 

Gosto de pensar que a vida é tanto mais saborosa quanto mais nos desafia, mas a verdade é que observo muito desespero de várias pessoas, perante os bojadores que se lhes deparam.

Visto em perspetiva, o Bojador foi um fantasminha histórico e Gil Eanes o primeiro duma saga de grandes navegadores portugueses. Os nossos problemas também são pequenas gotas no oceano das confusões do mundo. Talvez não fosse má ideia assumirmos o leme da vida que nos coube e imitarmos metaforicamente o Gil Eanes.


Gabriel Vilas Boas

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