Florbela Espanca escreveu a mais bela definição de Poeta; Luís Represas e os Trovante transformaram o soneto da poetiza numa das mais belas canções de amor da língua portuguesa.
Como já havia acontecido com "Pedra Filosofal" de António Gedeão, a música é o tsunami que invade os corações humanos e não deixa pedra sobre pedra no reino das emoções.
Talvez por isso muitos milhares de pessoas saibam de cor a parte final da composição poética de Florbela Espanca: “E é amar-te assim perdidamente… /É seres alma, sangue, e vida em mim…/ E dizê-lo cantando a toda a gente!”
Represas, melhor do que ninguém, encontrou a chave do poema de Florbela: o Amor.
Ao ouvir Luís Represas ou os Trovante percebe-se que é sobre esse “Rei de Aquém e Além Dor” de que Florbela escreve sempre.
Claro que a poesia nos faz voar como um condor até ao infinito, numa sede perpétua, mas a poesia serve o Amor, como um escravo serve o seu Senhor.
Não foi por acaso que Represas alterou o nome à canção não alterando uma vírgula ao poema. Musicalmente, o texto de Florbela Espanca é perfeito. O ritmo, a sonoridades das sílabas, as palavras-chave distribuídas a preceito, um final apoteótico.
O tempo passou pelo soneto e pela música e revelou a extraordinária beleza que ambos tinham. Como dois diamante raros são usados em ocasiões especiais para dizer a coisa mais importante do mundo.
A música e a poesia são uma sociedade perfeita para criar magia entre as pessoas. “Perdidamente” é uma perdição para quem gosta de música, de poesia, da vida e do Amor.
"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!"
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!"
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