Etiquetas

Mostrar mensagens com a etiqueta 25 DE ABRIL. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 25 DE ABRIL. Mostrar todas as mensagens

sábado, 25 de abril de 2015

CRAVOS MURCHOS


Quando um povo está triste, deprimido, pobre, desorientado, a liberdade e a democracia parecem valores desbotados. Percebo perfeitamente a frustração, até porque também a sinto.
Ao fim de quatro décadas de democracia e liberdade de escolha, percebemos, finalmente, que não existe verdadeira liberdade onde existe desigualdade, injustiça, pobreza.
Clamamos contra a hipocrisia da classe política, mas fomos nós que a elegemos; acusamos os parceiros europeus de falta de solidariedade, quando entraram milhões e milhões de euros em Portugal nos últimos quarenta anos; consumimos os nossos dias em acusações estéreis e sucessivos diagnósticos e estudos, no entanto recusamos qualquer mudança substancial, na economia, na sociedade, na educação, nas mentalidades, porque somos uns medricas, porque achamos sempre mais confortável ficar um bocadinho mais pobres, mais dependentes, do que arriscar uma mudança. A mudança acontece na mesma, mas são os outros que no-la impõem.

Obviamente impuseram aquilo que mais lhes interessou. Degradaram as condições de trabalho, destruíram lentamente o sistema de saúde e educação público e universal, fizeram-nos desacreditar da democracia, de tal modo que muitos acham que com ela ou sem ela é quase a mesma coisa. A ação foi deles, mas a culpa foi nossa. E aqui chegados, não me interessa mais voltar a falar de culpa e de culpados. Interessa-me saber como saímos disto.
Em primeiro lugar com gente nova. Nova de idade e nova na função de governar, dirigir. Gente que não tenha feito carreira partidária nem pretenda ficar muito tempo em cargos públicos. Depois precisamos de uma mudança de mentalidade individual e coletiva. Antes de reclamar sobre aquilo que o país não faz por nós, afirmar aquilo que fazemos pelo país. É possível boicotar a inação, a desigualdade, a injustiça dum sistema que sempre contou com os nossos piores defeitos de carater.
Melhorar a produtividade, recusar viver de esquemas, não ter medo da mudança social e política só porque quem chega não é da nossa cor ou é inexperiente. Toda a gente já foi inexperiente e, muitas vezes, aqueles de quem não gostamos servem melhor o interesse público que os nossos amigos.
Todos os povos têm, de tempos a tempos, uma oportunidade para se reerguer. A geração que nasceu com o 25 de Abril (a minha geração) já esbanjou duas vidas. Resta-lhe uma para fazer alguma coisa de útil.  

Gabriel Vilas Boas

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O 25 DE ABRIL E OS JOVENS

O 25 de abril faz quarenta e cinco anos. Mais de quatro décadas de democracia e liberdade tornaram o nosso país muito diferente e muito melhor. Afirmá-lo num tempo em que Portugal vive a sua maior crise económica, financeira, de confiança e de identidade, pode parecer uma ousadia, mas não é.
 Portugal não ganhou apenas liberdade de expressão e democracia política. Cresceu, também, muitíssimo a nível da educação, em todos os níveis: pré-escolar, ensino básico, secundário e universitário; melhorou brutalmente na prestação de cuidados de saúde, havendo hoje o triplo dos médicos e dos enfermeiros que existiam há quatro décadas. A esperança média de vida aumentou significativamente e isso ficou a dever-se à melhoria da assistência médica. A proteção social passou da quase inexistência a algo que garante um mínimo de dignidade aos nossos velhos.
                No entanto, sentimos, hoje, uma frustração de falhados. Sentimos que ficámos aquém do que podíamos e devíamos. E é verdade! A economia do país não desenvolveu conforme as oportunidades que teve na última década do século XX. A justiça paralisou e ajoelhou perante a burocracia e a corrupção e para completar o ramalhete da deceção coletiva: as qualificações de muitos portugueses são deficientes e ineficazes.
                Ficámos a meio da viagem. Muitos pensam que esta estagnação é definitiva, eu penso que não.
                Temos apenas que capacitar-nos que fizemos meio caminho e que há outro meio para fazer. Este caminho tem de ser feito pela geração do 25 de Abril, pelos homens e mulheres que agora têm quarenta anos.
                Durante quarenta anos, aqueles que conquistaram o 25 de Abril acusaram os jovens de não sentirem nem valorizarem as conquistas de abril. Não valorizavam nem podiam valorizar, pois não foram conquistas suas. Poucos são aqueles que entendem, valorizam e agradecem aquilo que lhes chega de mão beijada. Acham-no seu por direito natural. Não há que ficar ofendido com isso. É o que é!
                Esta geração, que tem hoje quarenta anos, tem de ter a sua “conquista”, fazer a sua revolução, ganhar o seu desafio. E o desafio desta geração não pode ser outro senão fazer a segunda parte do caminho.

                Modernizar sustentadamente o país; tornar a justiça ágil e independente; criar uma mentalidade de trabalho, de inovação, de competição salutar; aceitar e promover uma educação exigente, útil e eficiente.
                Contudo, é necessário fazer tudo isto sem destruir nenhuma das grandes conquistas da primeira parte do caminho: liberdade de expressão e escolha; educação e saúde para todos. Isto que dizer que temos de ir todos juntos. É mais difícil, mas é a única maneira de sermos um povo que luta por se cumprir.
Há quase um século, Fernando Pessoa dizia “Falta cumprir-se Portugal”, eu acrescento: à geração de abril falta cumprir-se. E Portugal é uma grande oportunidade, a melhor de todas, porque é a nossa vida, porque é o nosso amor.

Gabriel Vilas Boas.