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terça-feira, 27 de agosto de 2019

LOVE IS IN AIR


“Love is in the air” (também conhecido por “Flower Thrower”) é talvez uma das obras mais famosas de Banksy. Alguns negociantes de arte e leiloeiros fazem vários inquéritos ao público. Um deles, realizado em 2017, revelou que mais da metade dos inquiridos reconhece esta obra de Banksy sem precisar de qualquer tipo de pista.

Nela, o artista retratou um participante num protesto de rua, cujo rosto está oculto por um lenço. À primeira vista, parece que está a atirar um cocktail Molotov. Mas, se olharmos com mais atenção, podemos ver que na realidade está a segurar flores.

Banksy criou a primeira imagem como esta em 2003, na sua primeira viagem à Palestina. O seu guia disse-lhe que ninguém estaria a ver por trás do muro. E, quando o artista terminou o seu trabalho, riu-se para o guia – claro que o muro é constantemente observado, já que está na mira dos snipers.
Quando não gostamos de uma coisa, protestamos, às vezes saímos à rua para expressar o nosso descontentamento, para que as autoridades nos ouçam.

Mas, muitas vezes, esse descontentamento foge do nosso controlo e transforma-se numa verdadeira guerra, na qual, como em qualquer outra, não há vencedores nem vencidos. Um ramo de flores em vez de um cocktail Molotov nas mãos do atirador significa que qualquer mudança deve ser alcançada através de meios pacíficos, caso contrário provoca uma violência ainda maior.

A imagem de um homem serve para nos lembrar os ativistas rebeldes da década de 1960, que trouxeram slogans de oposição às ruas de Paris e tornaram-se os antecessores da arte de rua.

Ou talvez o artista quisesse dizer que protestar contra os regimes capitalistas ou militares é tão útil como atirar flores nas manifestações. Dizem com frequência ao artista que as suas obras são cínicas e sarcásticas. Talvez sejam, mas há uma coisa pela qual ele não pode ser censurado – por não dar às pessoas uma oportunidade para pensar, para tentar entender o significado do que veem. “Você decide!” – diz-nos Banksy mentalmente, vezes sem conta.

domingo, 26 de abril de 2015

RESGATE, de Manuel Alegre





Daqui a alguns dias já será possível encontrar nas livrarias o mais recente livro de Manuel Alegre – Bairro Ocidental – e é lá que podemos ler este maravilhoso poema sobre a revolta do poeta português sobre os anos de submissão económica e social que ainda vivemos.
Com o poema RESGATE, Manuel Alegre reafirma o eixo fundamental da sua poesia: a intervenção social e política através da poesia.
Em «Resgate» podemos ler toda a revolta do português que se sente humilhado pela intervenção da troika e pela submissão dos governantes do seu país, incapazes de compreender o seu povo. Depois de há cinquenta anos insuflar esperança através dos seus poemas, agora, Manuel Alegre defende a dignidade do seu povo, num poema belíssimo que passo a transcrever e que vale a pena ler com muita atenção.


RESGATE
Há qualquer coisa aqui que não gostam
Da terra das pessoas ou talvez
Deles próprios
Cortam isto e aquilo e sobretudo
Cortam em nós
Culpados sem sabermos de quê
Transformados em número estatísticas
Défices de vida e de sonho
Dívida pública dívida
De alma
Há qualquer coisa em nós de que não gostam
Talvez o riso esse
Desperdício.
Trazem palavras de outra língua
E quando falam a boca não tem lábios
Trazem sermões e regras e dias sem futuro
Nós pecadores do Sul nos confessamos
Amamos a terra o vinho o sol o mar
Amamos o amor e não pedimos desculpa.
Por isso podem cortar
Punir
Tirar a música às vogais
Recrutar quem os sirva
Não podem cortar o verão
Nem o azul que mora aqui
Não podem cortar quem somos!

Manuel Alegre