Hoje os cristãos assinalam a Páscoa, ou seja, a ressurreição de
Jesus Cristo. Trata-se da principal festa religiosa dos cristãos, pois através
da ressurreição, Cristo assume-se como verdadeiro Deus e deste modo o
cristianismo ganha uma dimensão de religião.
A palavra Páscoa deriva do
hebraico “Pessach” que significa passagem. Os judeus comemoram, através dela, a
libertação e fuga do seu povo do Egito; os pagãos ligam-na à passagem do
inverno para a primavera; para os cristãos é a passagem da morte à vida. É isso
que a ressurreição de Cristo significa para os cristãos. Verdadeiramente, o
cristianismo começa aí.
Ora, os portugueses são um povo
sem religião oficial, mas, culturalmente, são
na sua maioria cristãos e católicos. A questão que hoje, no meu
entender, se coloca é que espécie de cristãos e de católicos são os
portugueses, atualmente? Qual o papel da religião na vida das pessoas? E o da
Igreja?
Acho que é um papel cada vez mais
secundário. As decisões mais importantes da vida de cada um não têm em conta os
ensinamentos cristãos nem as recomendações da Igreja.
Hoje, há uma certa vergonha em se
assumir cristão. E por que é que isto acontece? O ideário cristão é
profundamente humanista e geralmente considerado muito recomendável, no
entanto, uma grande parte das pessoas acham-no duma inocência racional
inaceitável, outros acusam-no de semelhanças com um conto de fadas, pois contém
evidentes falhas de explicação racional. Pois contém e terá sempre de conter. A
Igreja nem deve preocupar-se em refutar tal acusação.
A força da religião não é a razão,
mas sim a fé! E a fé não é acessória para o ser humano. Ele acredita no
sobrenatural e no transcendente.
Então, por que se afasta o Homem
da religião (cristã) a quem reconhece méritos? Porque ela o interpela, porque
lhe aponta diretamente os erros e lhe sugere caminhos a seguir, “obrigando-o” a
mudar, sem vacilar. Como isso implica esforço, normalmente, o cristão cultural
sorri amarelo e prefere apontar as falhas da Igreja e, se isso não for
suficiente, do próprio cristianismo.
A isto acresce que ser da Igreja é
conotado como ser alguém fora de moda, algo rústico, tonto e naïf.
Nessa visão desfocada das coisas, ser da Igreja impede as pessoas de usufruir
da vida, de a aproveitar.
O problema não é esse. O problema
é que ser-se cristão obrigar-nos-ia a confrontarmo-nos com os nossos defeitos e
a ser melhores pessoas. Ora isso dá muito trabalho! Isto aplica-se aos
cristãos, porque há cada vez mais pessoas a declarar-se “sem religião”. Ao
contrário de há cinquenta anos, o normal, o aceitável e expectável é não ser-se
religioso.
Eu acho que o bom seria cada um
pensar pela sua própria cabeça. Conhecer e avaliar a proposta de vida que uma
religião como o cristianismo faz e verificar se ela faz sentido ou não na sua
vida. Verdadeiramente desafiante para um cristão cultural
era tornar-se num cristão praticante.
E qual o papel do Papa Francisco
no contexto atual do cristianismo e da Igreja católica?
O grande e surpreendente herói dos
cristãos é um fenómeno pela sua sincera simplicidade, pela maneira
desconcertante como diz o óbvio que a Igreja não dizia nem praticava, por fazer
a Igreja regressar à simplicidade e humildade da fé de Cristo.
O Papa Francisco conseguiu travar
o processo de erosão que a Igreja Católica passava e fê-la olhar-se ao espelho.
Motivo de orgulho para os cristãos, de admiração para os não praticantes e de
respeito para os não crentes, o Papa Francisco tem um enorme desafio pela
frente.
Ele deve atrair gente à Igreja Católica,
recuperando os não praticantes, seduzindo os não crentes. Depois ele deve
tornar a voz e o papel da Igreja relevantes quer no contexto das diversas
sociedades quer nas decisões de cada pessoa.
Mais que simpático, o Papa
Francisco precisa de ser ainda mais assertivo e incisivo, sem se tornar
pretensioso ou querer decidir pelas pessoas. Ele tem que seduzir como Cristo.
Tem de ter opinião sobre os assuntos que afetam as pessoas no dia-a-dia, sem
impor uma visão meramente religiosa. Ele tem de mostrar que algumas visões
humanistas da vida têm muito de cristianismo.
Gabriel Vilas Boas
DESEJO QUE TENHAM TIDO UMA FELIZ PÁSCOA!!! PARA MIM, GABRIEL, O PAPA FRANCISCO NÃO PRECISA DE SER MAIS ASSERTIVO. ALÉM DE SIMPÁTICO, HUMILDE, VERDADEIRO E MUITO CARINHOSO, TEM UM DIÁLOGO CONSTRUTIVO E VASTO, PARA SEDUZIR COMO CRISTO! ADORO O PAPA FRANCISCO! E ADOREI O TEU TEXTO GABRIEL. PARABÉNS.
ResponderEliminarExcelente texto, o que jao admira, seja para cristãos ou não.
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