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quinta-feira, 3 de abril de 2014

DA ARTE, DA PINTURA, DE NADIR AFONSO, RARO E ÚNICO

“A Arte é, para quem não trabalha as formas, uma essência misteriosa.”
Nadir Afonso

Considero que as duas maiores revoluções pictóricas do início do séc. XX são a dos fauves e a dos cubistas. Significaram uma crise da durée e ainda hoje a pintura depende muito delas.
Estas revoluções foram sobretudo a grande consequência da instabilidade e inquietação então sentidas mas também a necessidade de revolta que levou aos radicalismos que todos conhecemos. Desejava-se uma nova ordem, independente da ordem antiga e de preferência, contra ela.
A partir do Renascimento, houve artistas que aproveitaram a ciência para atribuir à arte uma base racional. Os fauves, no entanto, revoltaram-se contra ela enquanto os cubistas criaram uma ciência a seu modo, reviram a tradição, buscaram as leis da proporção e as leis matemáticas que se pensava ordenarem a natureza.
Nadir (em hebraico, raro, único) foi mais longe. Da Arte, da sua Arte, afirmou: ”Exatidão, qualidade essencial, universal e constante que nada tem a ver com as funções, sempre evolutivas, sejam elas a perfeição mais perfeita. Exatidão na matemática para além da geometria dos geómetras…”; e insiste: ”A Arte é, para quem não trabalha as formas, uma essência misteriosa.”. Por isso Nadir, também ele um pensador da Arte, defende que esta deve ser puramente objetiva, orientada por leis matemáticas, que permitam a correta observação e perceção da forma.
Arquiteto de formação, conviveu com Portinari, trabalhou com Le Corbusier e com Oscar Niemeyer sendo por isso também uma pessoa singular no país que o viu nascer, lá longe, numa delícia de cidade que dá pelo nome de Chaves, acariciada por um Tâmega preguiçoso mas que vem sofregamente, diariamente até Amarante, desta vez para nos acenar com uma Exposição que apelidaram de Releituras e Revisitações. E eis que Nadir se mostra inteiro, numa fase conhecida pelo período Organicista ou Antropomórfico e em que o pintor assume uma clara maturação da sua arte.
Tive já a oportunidade de visitar a referida exposição. Gosto do Museu da minha cidade, embora não o visite tantas vezes quanto gostaria. Gosto do espaço, gosto das gentes e do cheiro agradável a cera que o inunda, que faz já parte das minhas memórias sensitivas. Ali, na Sala de Exposições Temporárias, a cor prevalece em profusão. De repente, a forma, a perspetiva, a figura humana confundem e confundem-se. A linha curva acentua-se, deixando adivinhar a figura feminina, em corpos que inundam telas como A Cidade Longínqua ou a Praia das Sereias. Nadir sai aqui voluntariamente do campo da abstração para a figuração, sem se desligar dela. Como afirma Bernardo Pinto de Almeida, voltamos a ter uma “vertigem da figuração”. Estas formas não são mais do que “…linhas, manchas, pontos, como queria Kandinsky.”.
Nadir Afonso, A Cidade Longínqua, Acrílico s/tela, 91,5x 99,5 cm,1989
Gostei imenso desta fase de Nadir, um dos grandes precursores da Arte Cinética, conjuntamente com Victor Vasarely e Fernand Léger, entre outros. Aconselho a que não deixem de visitar esta mostra patente no MMASC até 27 de abril. E gostava muito também que espreitassem este vídeo que selecionei para nós e que dá notícia do doutoramento Honoris Causa, que lhe foi conferido pela Universidade do Porto. Com toda a certeza que, tal como eu, se vão apaixonar pela grandeza e fragilidade da sua pessoa humana. E sorrir…porque Nadir também se foi da lei da morte libertando, em grande estilo, deixando-nos uma obra singela que devemos preservar.
Rosa Maria Alves da Fonseca

4 comentários:

  1. DA ARTE, DA PINTURA, DE NADIR AFONSO, RARO E ÚNICO: ADOREI... UM PINTOR ARQUITETO, DOS NOMES MAIS DESTACADOS DA ARTE PORTUGUESA! GOSTEI DO VÍDEO E DO BELÍSSIMO TEXTO! PARABÉNS.

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  2. Obrigada, Ana. Vou propor ao Gabriel que organize um jantar entre todos, quando chegarmos aos 100 posts. E acho que a Ana vai ser nossa convidada, como prémio de mérito pela simpatia e assiduidade.

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  3. Acho a ideia muito boa! Quanto ao teu texto, delicioso, li-o com toda a atenção, concordando com todas as palavras. Beijocas!

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  4. Anabela Magalhães, o blogue espera uma humilde contribuição tua por estes dias...ehehehe.. Porque a vida não pode ser só selfie's e pão-de-ló, não achas?

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