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domingo, 6 de abril de 2014

JOSÉ WILKER

José Wilker morreu ontem, no seu Brasil, vítima de enfarte cardíaco. Faleceu o ator do mítico Roque Santeiro, o Mundinho de “Gabriela, Cravo e Canela”, o Vadinho do imortal “Dona Flor e seus dois maridos”.
                Li a notícia ao final da manhã, enquanto tomava café, e a notícia tornou o momento triste assim como quase o resto do dia. Recordei as memórias que tinha do ator e, surpreendido, verifiquei que eram todas boas, alegres, descontraídas. Por causa do seu talento acompanhei, religiosamente, telenovelas nos anos 80 e 90 do século passado que entretanto deixei de ver.

                Aquele jeito único com que dizia “se prepare que eu hoje vou-lhe usar” fixou-se na memória coletiva de milhões de portugueses e brasileiros que, no dia de hoje, recordarão com um sorriso suave a categoria dum homem que nos prendia ao ecrã depois do telejornal. Se fosse hoje, seria igual, porque quando um texto de Jorge Amado encontra a interpretação dum José Wilker, um Lima Duarte ou uma Regina Duarte não há telespectador que resista ao encanto.
                 José Wilker teve uma vida cheia e boa. Costumava dizer sobre si que “era o maior malandro que conhecia… que mais trabalhava”. E trabalhou imenso. Participou em mais de cinquenta telenovelas, foi personagem em mais de sessenta filmes, contracenou com atores famosos como Regina Duarte, Lima Duarte ou Suzana Vieira e acrescentou-lhes brilho com o seu desempenho. Tornou “Dona Flor e seus dois maridos” um sucesso de bilheteira que não envergonha a mestria da obra literária; ajudou a lançar dezenas de jovens atores, emprestando o seu nome e o seu talento a produções onde muitos iniciaram o seu percurso televisivo, cinematográfico e teatral. Talvez por isso, a presidente brasileira Dilma Rousseff tenha dito que ele “era um exemplo de dedicação à arte”. Outros falam da sua grande disponibilidade para o trabalho, do “ator culto e peculiar” que já me tinha ficado na memória há vinte e seis atrás quando ocupava as minhas noites a ver os seus hilariantes diálogos com Sinhozinho Malta (Lima Duarte) e Porcina (Regina Duarte). Aquele falar arrastado, atrevido e divertido desconcertava-me.
                Hoje, uma notícia infeliz no jornal fez-me voltar a pensar nele. E pensei que não devia escrever sobre ele, hoje, pois a morte é uma coisa triste cuja única resposta decente que merece é o silêncio. No entanto, a memória das suas atuações perseguiu os meus pensamentos todo dia, numa insistência comovedora que me leva a dizer-lhe, caro José Wilker: “Se prepare, que eu hoje vou-lhe usar”.
Gabriel Vilas Boas


6 comentários:

  1. EXCELENTE HOMENAGEM A JOSÉ WILKER!!! CONCORDO COM A PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF: "ERA UM EXEMPLO DE DEDICAÇÃO À ARTE"! PARABÉNS GABRIEL.

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    1. Obrigado, Ana. De todas as telenovelas em que entrou, qual foi a que mais gostaste?

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  2. Cinco estrelas! Um texto perfeito que nos recordou esse grande actor que foi José Wilker, um grande senhor, dono de uma voz peculiar. Parabéns Gabriel. Pov.

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    1. Obrigado pelas simpáticas palavras que nos deixa, Pov. Apareça sempre, aqui, nos comentários.

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  3. Respostas
    1. José Wilker é daqueles atores que marcaram uma época. Não achas Anabela Magalhães?

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